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Fact Check Madeira

Estacionamento no Ribeiro Frio é “promessa antiga”

As dificuldades sentidas nos últimos dias com a circulação automóvel no Ribeiro Frio, nos últimos dias, levou à contratação do serviço da PSP para regular o trânsito. 
As dificuldades sentidas nos últimos dias com a circulação automóvel no Ribeiro Frio, nos últimos dias, levou à contratação do serviço da PSP para regular o trânsito. , Foto DR

A circulação automóvel e o estacionamento nos principais pontos turísticos da Madeira estão na ordem do dia. Têm sido recorrentes os relatos de dificuldades sentidas no Pico do Areeiro, na Ponta de São Lourenço, nas Queimadas ou no Ribeiro Frio.

Para tentar, de alguma forma, minimizar os constrangimentos para quem circula nestes locais, o Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) voltou a contratar os serviços da Polícia de Segurança Pública (gratificados) para um controlo de proximidade e efectivo do trânsito automóvel nos pontos chave, com maior visibilidade.

PSP fiscaliza principais pontos turísticos da Madeira

A Polícia de Segurança Pública, em articulação com o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas tem feito um policiamento de visibilidade nos principais pontos turísticos da Região Autónoma da Madeira.

No caso do Ribeiro Frio, a intervenção da PSP está longe de agradar a todos. Este fim-de-semana foi notícia o descontentamento dos comerciantes da zona e de alguns profissionais do turismo. Certo é que, enquanto a polícia lá tem estado, deixou de haver confusões na estrada.

Numa dessas notícias, vários foram os comentários, uns a favor, outros conta. Muitos pediam mais estacionamento. Um dos leitores dizia mesmo que “essa é uma promessa antiga, mas que tarda em ser concretizada”. Pois é precisamente essa ‘antiguidade’ que vamos aqui confirmar.

O aumento do número de turistas que visitam a Madeira, o crescimento constante de viaturas de rent-a-car, bem como o aumento de viaturas de turismo a circularem nas estradas da Madeira têm, no seu conjunto, originado vários problemas de trânsito e de estacionamento nos principais pontos turísticos.

E se este é um problema relativamente recente no Pico do Areeiro, mais sentido nos últimos três anos, embora com o “caos” a ser apontado já antes disso, o mesmo já não se poderá dizer em relação ao Ribeiro Frio, onde a ‘hora de ponta’, durante a manhã, causou sempre muitos constrangimentos. Há mais de 15 anos que o problema vem sendo apontado.

Em 2008, no mês de Julho, considerada época alta para o turismo, o DIÁRIO dava conta do “caos no Ribeiro Frio por falta de estacionamentos”. Esse ponto turístico era, na altura, o local mais visitado por turistas, de acordo com os dados da então Secretaria Regional de Turismo e Transportes. Esta situação tem vindo a agravar-se. Se antes as complicações colocavam-se, sobretudo, aos autocarros, agora são as viaturas de aluguer que se estendem da zona muito antes do viveiro das trutas até depois ao último espaço de restauração, na parte mais baixa da localidade.

Na altura, o DIÁRIO confrontou o gabinete do secretário regional do Equipamento Social, Santos Costa, com o problema, entidade pública com o pelouro das estradas regionais. Em resposta, aquele organismo disse estar “atendo ao problema” e dava conta não estar prevista, para a altura, a construção de estacionamento naquele local.

Ainda assim, o assunto estaria a ser estudado. “Conscientes da grande afluência de público àquele local e das dificuldades resultantes dessa procura, o assunto está a ser analisado e estudado por esta Secretaria - através da concessionária RAMEDM – Estradas da Madeira, SA -, em conjunto com a Direcção Regional de Florestas, no sentido de ser equacionada a melhor solução para resolver os estrangulamentos pontuais que se verificam”, esclarecia o Gabinete de Santos Costa.

O então director regional de Florestas, Rocha da Silva, confirmava que “a grande limitação daquele espaço é o estacionamento”, mas alertava para as dificuldades de qualquer intervenção naquele espaço. “A margem esquerda do Ribeiro Frio é pertencente a privados. Do lado direito, há uma mancha de Laurissilva, que deve ser protegida. Não é fácil mexer ali”, vaticinava o governante.

Dois anos depois, em 2010, o problema mantinha-se, sobretudo ao fim-de-semana e feriados, quando os madeirenses costumavam passear pela ilha. Em Maio, a reportagem do DIÁRIO testemunhava que “o entupimento no trânsito mais parecia o de uma cidade em hora de ponta”.

Na altura, com a levada recuperada e o centro de educação ambiental reaberto, a construção de um estacionamento continuava a ser falada, mas nunca avançou qualquer estudo que fosse público. Os comerciantes de então não se mostravam muito crestes nessa solução.

Antes do boom truístico que a Madeira hoje conhece, o problema do estacionamento no Ribeiro Frio foi notícia mais algumas vezes, sendo, inclusive, reconhecido pelos vários governantes com a pasta do Ambiente.

Mais recentemente, já nos governos de Miguel Albuquerque, o próprio assumiu a existência de um problema. Antes mesmo de se falar no “caos” no Pico do Areeiro ou na Ponta de São Lourenço, o Ribeiro Frio era o ‘calcanhar de Aquiles’.

Em Novembro de 2019, aquando da inauguração da requalificação dos Posto Aquícola, o presidente do Governo Regional dizia que a Região estava empenhada em adquirir um terreno para resolver o problema de falta de estacionamento naquele local. Esse terreno deveria ter capacidade para 100 automóveis ligeiros e dez autocarros, dava conta o governante. A obra, apontava então Albuquerque, deveria ser concretizada num futuro próximo e iria servir para por um ponto final na situação “caótica”, cumprindo “os trâmites e normas ambientais”.

Susana Prada, secretária regional com a pasta do Ambiente estava presente e estava por dentro do ‘projecto’ referido por Miguel Albuquerque. Três anos depois, com o agudizar do problema do estacionamento e do trânsito em vários pontos turísticos, a governante voltou a falar no caso do Ribeiro Frio, dando conta de que estaria a ser estudada uma solução semelhante à do Pico do Areeiro para aquele local.

“Estamos a estudar uma solução para aumentar substancialmente a área de estacionamento”, dizia a secretária regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas. A governante lembrava, então, que, em colaboração com a Direcção Regional de Estradas, foram aproveitados todos os espaços que existiam nas bermas da estrada regional entre o Poiso e o Ribeiro Frio, o que permitiu criar “entre 30 a 40 novos estacionamentos para ligeiros”. Pouco mais foi feito.

A sucessora, Rafaela Fernandes, também reconheceu o problema. Em Março do ano passado, a então secretária regional de Agricultura e Ambiente destacava a criação de novas zonas de estacionamento para aliviar a pressão nos pontos turísticos mais procurados, como era o caso do Ribeiro Frio e equacionava, mesmo, a colocação de semáforos para disciplinar a circulação automóvel. Não passou de uma intenção.

Também Dinarte Fernandes, ainda recentemente, numa entrevista ao canal público de televisão, assumia as dificuldades em concretizar qualquer solução para o Ribeiro Frio, pese embora as conversações com a ex-secretária regional. O presidente da Câmara Municipal de Santana dizia que este “é um caso deveras complicado”. E explicava o motivo: “complicado porque é da tutela do Governo”, começava por dizer, concretizando que “é muito difícil, de facto, o Governo Regional conseguir uma solução imediata para aquela zona”.

O autarca apelava a que o problema fosse alvo de estudo por parte do Executivo e que fosse encontrada “uma solução para ali”, mesmo que tal implique “avançar para expropriações se for necessário”, não deixando, contudo, de notar que os terrenos existentes estão a uma cota muito inferior à da estrada, podendo encarecer o projecto.

Portanto, pelo exposto se pode concluir que o problema da falta de estacionamento no Ribeiro Frio não é novo e é até anterior ao “caos” que tem sido presenciado noutros pontos turísticos, mais recentemente. Antigo é, também, o ‘estudo’ de uma solução para o congestionamento automóvel nesta localidade. Pelo menos, desde 2008 que membros do Governo Regional apontavam para essa solução que tarda em ser concretizada.

Considera-se, por isso, verdadeira a afirmação que refere que “faltam estacionamentos no Ribeiro Frio. Essa é uma promessa antiga, mas que tarda em ser concretizada”.

“Faltam estacionamentos no Ribeiro Frio. Essa é uma promessa antiga, mas que tarda em ser concretizada”, apontava um leitor do DIÁRIO num dos comentários a uma notícia sobre o tema.