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Brasil: O destino esquecido

Falar da emigração madeirense para o Brasil é mencionar uma emigração esquecida. Centenas de famílias venderam os seus bens e partiram, sem ter a oportunidade de voltar. Muitos apelidos desapareceram por completo das nossas freguesias, mas espalharam-se pelo território brasileiro formando novas comunidades. Onde se instalaram ao chegar ao Brasil?

O Estado de São Paulo foi um grande recetor de emigrantes e foi dos primeiros a adotar a “imigração subvencionada”, uma modalidade que cobria os gastos de viagem do núcleo familiar e prometia trabalho e terras. Uma medida que foi promulgada pelo Estado brasileiro, em 1871, numa lei que contemplava a emissão de apólices de até 600 contos de réis para o pagamento das passagens.

A necessidade de mão de obra, devido ao crescimento da indústria do café e de outros setores agrícolas, intensificou-se com a abolição da escravatura, em 1888, um cenário que levou o Estado de S. Paulo a adotar a política pública denominada “braços para a lavoura” com o objetivo de fomentar o trabalho agrícola nas fazendas de café.

Clementina Ferreira da Silva, natural de S. Roque do Faial, foi uma das emigrantes que partiu para o Brasil, em 1960. Recebeu uma carta de chamada da sua irmã que já se havia instalada no Brasil e decidiu partir porque como afirma “eram tempos difíceis em Portugal, o jeito era tentar a vida em outro lugar, e assim aventurei-me como tanta gente fez”. Depois de vários dias de viagem a bordo do Navio Salta chegou ao porto de Santos e instalou-se junto aos seus familiares em S. Paulo.

A influência madeirense está presente ao longo de todo o país: nas padarias, na vida cultural, nas Casas da Madeira e nos clubes de futebol como “A Portuguesa”. Mas a melhor expressão do espírito madeirense encontra-se no legado das bordadeiras do Morro de São Bento, em Santos. As nossas bordadeiras instalaram-se nessas encostas que lembravam as ladeiras da sua terra natal e entre linhas e agulhas bordaram uma nova história, sem nunca esquecer as suas raízes.

Foi essa herança que deixaram que faz com que agora os filhos e netos, décadas após as primeiras partidas, voltem à Madeira para resgatar esse passado familiar e reviver essa viagem de volta que os seus antepassados não conseguiram fazer.