Desafio da CDU é converter as queixas dos cidadãos em “cruzinhas” nos boletins de voto
“Temos baixos salários, impostos a crescer e os preços no supermercado a aumentar. São preços de luxo para pensões e salários de miséria”. Enquanto o ‘número 2’ da lista da CDU, Ricardo Lume, fazia ouvir a sua voz na pequena tribuna montada esta manhã no eixo da Rua Fernão de Ornelas, uns metros ao lado, Edgar Silva escutava um idoso que, com papéis na mão, se queixava da baixa pensão de reforma e da falta de resposta das instituições públicas ao seu pedido de habitação.
“Este senhor trabalhou 41 anos para ganhar uma pensão de miséria”, denuncia Lume, através do microfone. “48 anos!”, corrige o idoso, que, entretanto, se sentara num dos bancos de pedra da artéria mais movimentada do Funchal. O antigo deputado comunista prossegue: “Os empresários dizem que nunca ganharam tanto. Na Hotelaria nunca se teve tantos lucros, mas as entidades patronais recusam dar um aumento salarial ao nível do que foi feito com o salário mínimo”.
Cerca de meia centena de militantes e simpatizantes da CDU cobrem a rectaguarda do candidato que se encontra na tribuna. Ocupam toda a largura da antiga faixa de rodagem. Os transeuntes, a maioria dos quais turistas estrangeiros, vão circulando pelos passeios laterais. “Há tanta despesa para tão pouco salário. Não podemos permitir que quem tanto trabalha e trabalhou ganhe esta miséria. Sem a CDU no parlamento deixou-se de falar dos problemas do trabalho e do custo de vida. Não houve uma única proposta no parlamento para combater a precariedade laboral”, assegura Ricardo Lume.
“CDU a voz dos teus direitos”, lê-se no folheto que uma militante vai distribuindo, juntamente com canetas. As poucas canetas esgotam-se num ápice. Mais pessoas param para apreciar a campanha. Ficam uns segundos a assistir e depois retomam a marcha. Um idoso volta atrás para falar com Edgar Silva. Por estes dias, há mais reclamações. É a falta de habitação, é o custo de vida, são as expropriações…
“Nós não fazemos promessas. Nós assumimos um compromisso. O compromisso da CDU é que faça chuva ou faça sol, todos os dias podem contar com a CDU. É o primeiro no boletim de voto. Façam a cruzinha”, termina Ricardo Lume, que cede o lugar na tribuna a Edgar Silva.
Há vários sindicalistas a empunhar as bandeiras coloridas da CDU na acção de rua. “Não basta ter força social. Se os trabalhadores e o povo não têm força política, os direitos ficam coxos na sua conquista. Se a força social não tem quem os represente no parlamento, a luta fica manca, não transforma, não muda em profundidade a conquista de direitos”, alerta Edgar Silva, já na fase final da sua intervenção.
A voz do cabeça-de-lista está rouca. Parece ser consequência das incursões da campanha comunista por sítios frios e recônditos da ilha. Hoje, por exemplo, há minicomícios programados nas zonas altas de Santa Cruz, Porto da Cruz, Jardim da Serra e Garachico. Há também grupos incumbidos de entrar em contacto com os trabalhadores das maiores empresas regionais.
O minicomício terminou com um apelo directo ao voto, “porque não basta estar indignado”. “Votar na CDU é fácil. É votar no primeiro no boletim de voto”, sublinha o cabeça-de-lista.