Distinção entre funções técnicas e voluntárias
No X Encontro de Voluntários da Região, Miguel Simões Correia, voluntário e presidente da Associação Candeia, sublinhou a importância de distinguir rigorosamente o que deve ser desempenhado por técnicos qualificados e o que pode ser assegurado por voluntários. “Tem de se perceber o que são funções técnicas e o que são funções voluntárias. As funções técnicas têm de ser remuneradas e exigem know-how, responsabilidade e enquadramento profissional”, afirmou.
O dirigente lembrou que, nas casas de acolhimento, este modelo já é claro: existe uma equipa técnica especializada e uma equipa educativa que acompanha o dia a dia das crianças, composta por profissionais que não são voluntários, mas também não desempenham funções técnicas. “O voluntário nunca deve substituir um técnico. Precisa sempre de enquadramento técnico, mesmo quando está a trabalhar em áreas complementares”, reforçou.
Miguel Simões Correia explicou que a própria Candeia segue este princípio. Nos projectos em que apenas complementa actividades das casas de acolhimento, não existe equipa técnica própria, porque o enquadramento é assegurado pelas instituições. Já em projectos como o Amigos para a Vida, que implicam selecção, acompanhamento e responsabilidade directa sobre famílias voluntárias, é indispensável ter técnicos especializados. “Selecionar famílias e acompanhar relações exige responsabilidade técnica. Não pode ser feito só com boa vontade”, sublinhou.
O voluntário chamou ainda a atenção para um dos maiores desafios nacionais: a falta de famílias de acolhimento. Portugal é o país europeu com a taxa mais baixa de acolhimento familiar, segundo um relatório da UNICEF de 2004, tendência que se mantém. “As famílias de acolhimento em Portugal são voluntárias. Recebem um subsídio para despesas, mas não são remuneradas. A verdade é que não podemos substituir uma família com um profissional. É a comunidade que tem de chegar à frente”, afirmou.
Comparando com Espanha, onde algumas regiões já profissionalizaram o acolhimento familiar, Miguel Simões Correia sublinhou que Portugal optou por manter o modelo voluntário, o que torna ainda mais urgente o envolvimento da sociedade. “Uma criança em perigo só poderá permanecer na comunidade se houver famílias que se disponibilizem para recebê-la. Sem voluntários, não há acolhimento familiar possível.”
Apesar da necessidade de políticas públicas, benefícios e melhores condições para quem se oferece, o responsável foi claro: o voluntariado não é dispensável. “Mesmo com mais técnicos e melhores estruturas, o trabalho do voluntário é insubstituível. Em muitas áreas sociais, não existe alternativa.”
Miguel Simões Correia concluiu defendendo que a resposta às crianças e jovens em risco dependerá sempre de uma sociedade civil activa, envolvida e consciente. “É a comunidade que protege as suas crianças. Sem esse compromisso, nenhum sistema funciona”, concluiu o orador convidado