À medida que o ano chega ao fim, é comum começar a antecipar o que o futuro reserva. Para quem tem crédito habitação com taxa variável, acompanhar as previsões sobre a evolução das taxas de juro torna-se essencial para planear o ano seguinte e neste Explicador o Doutor Finanças esclarece como pode fazê-lo.
A prestação da casa representa uma fatia significativa do orçamento familiar e qualquer alteração na Euribor reflecte-se directamente no valor a pagar Como sabemos, a evolução deste indexante é influenciada pelas decisões do Banco Central Europeu (BCE) sobre a política monetária. Perante este cenário, que perspectivas se desenham para 2026?
2025 ficou marcado por descidas, 2026 deverá ser um ano de estabilidade nas taxas
Ao longo de 2025, o Banco Central Europeu (BCE) seguiu a linha adoptada em 2024 e procedeu a quatro reduções das taxas de juro de referência. O ano começou com a taxa da facilidade permanente de depósito fixada em 3% e deverá terminar nos 2%.
O último corte ocorreu em Junho e, desde então, o BCE manteve as taxas directoras inalteradas. Na reunião de 18 de Dezembro, a última do ano, confirmou-se o cenário já antecipado pelos mercados, não havendo qualquer alteração.
Para 2026, a maioria das previsões aponta para a manutenção das taxas actuais. Segundo um inquérito da Reuters junto de 96 economistas, cerca de 80% acredita que as taxas se manterão estáveis pelo menos até meados do ano, enquanto 75% considera que não haverá mudanças ao longo de todo o ano.
Ainda assim, o próximo ajuste poderá ser no sentido da subida. Em declarações à Bloomberg, Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE, afirmou sentir-se “confortável” com a perspectiva de que o próximo movimento seja um aumento das taxas. No entanto, esse cenário não é esperado para o curto prazo.
Euribor deverá manter-se perto dos 2% ao longo do ano
A trajectória da Euribor tende a acompanhar, e por vezes até a antecipar, as decisões do Banco Central Europeu (BCE). Um olhar rápido para o comportamento da Euribor a seis meses ajuda a ilustrar essa relação. Em Setembro de 2023, quando a taxa da facilidade permanente de depósitos atingiu o máximo de 4%, a Euribor apresentou uma média de 4,030%.
Mais tarde, em Junho de 2024, com o primeiro corte de 0,25 pontos percentuais por parte do BCE, que reduziu a taxa de referência para 3,75%, a média mensal da Euribor situou-se nos 3,715%. Avançando para o mais recente corte, que fixou a facilidade permanente de depósitos em 2%, a Euribor a seis meses registou, nesse mês, uma média de 2,050%.
Nos meses seguintes, a taxa subiu de forma ligeira e, em Novembro, o último mês com dados disponíveis, atingiu uma média de 2,131%.
Para 2026, as expectativas dos mercados apontam para uma evolução relativamente estável. Os contratos de futuros da Euribor a três meses indicam um início de ano em torno dos 2,05% e níveis semelhantes no começo de 2027. Pelo caminho, poderá verificar-se uma ligeira descida até Agosto, seguida de uma recuperação a partir de Setembro. As projecções mais recentes do BCE, divulgadas em Setembro, estão alinhadas com este cenário, prevendo uma média anual próxima dos 1,9%.
Quanto à Euribor a seis meses, as previsões sugerem um arranque do ano próximo dos 2,12% e um fecho de 2026 em torno dos 2,17%. À semelhança do que acontece com o prazo de três meses, os mercados antecipam uma ligeira descida até meados do ano.
O que sabemos sobre as taxas fixas?
À data da elaboração deste artigo, os swaps de taxas de juro, utilizados como referência nas operações de taxa fixa, situam-se em torno dos 2,32% para o prazo de dois anos e dos 2,43% para uma taxa fixa a três anos.
Ainda assim, tanto as projecções para a Euribor como as relativas às taxas fixas devem ser encaradas com prudência, uma vez que factores de natureza política ou económica podem alterar estes cenários.
Que peso é que tudo isto tem no crédito habitação?
Contrair um empréstimo bancário tem sempre um custo, que aumenta à medida que as taxas de juro sobem. Assim, as variações da prestação mensal acompanham a evolução da Euribor. A frequência com que essa actualização acontece depende do indexante escolhido no contrato: três, seis ou 12 meses.
Quem opta por uma taxa fixa beneficia de previsibilidade e estabilidade, sem surpresas ao longo do tempo. Embora não tire partido de eventuais descidas da Euribor, também fica protegido contra possíveis subidas.
Taxa mista ou variável: qual é a melhor opção?
Comecemos por analisar o que acontece na fase inicial do contrato. Para isso, foram consideradas as taxas fixas a dois, três e cinco anos praticadas por nove bancos em Portugal nos contratos de taxa mista, tendo-se em conta, em cada caso, as ofertas mais competitivas.
Nas taxas mistas de dois e três anos, uma Taxa Anual Nominal (TAN) de 2,25%, aplicada a um crédito de 200 mil euros a 30 anos, resulta numa prestação mensal de 764,49 euros.
No caso da taxa mista a cinco anos, a melhor proposta apresenta uma TAN de 2,35%, o que, para um empréstimo com as mesmas condições, corresponde a uma prestação de 774,63 euros.
Já num contrato com taxa variável, considerando uma Euribor a seis meses de 2,1% e um spread de 0,70%, a TAN ascende a 2,80%, traduzindo-se numa prestação mensal de 821,79 euros.
Importa, no entanto, ter em conta as perspectivas para a evolução da Euribor:
- Com taxa fixa por dois ou três anos, a TAN mantém-se nos 2,25%;
- Com taxa fixa por cinco anos, a TAN é de 2,35%;
- Os futuros da Euribor apontam para uma taxa a seis meses de 2,17% no final de 2025. Acrescentando o spread de 0,70%, obtém-se uma TAN de 2,87%.
Numa fase inicial, os dois primeiros cenários revelam-se mais vantajosos, sobretudo num contexto em que não são esperadas descidas significativas da Euribor que a coloquem abaixo das taxas praticadas nos contratos de taxa mista.
Por fim, independentemente de ter um crédito indexado à Euribor ou com taxa fixa, é importante lembrar que existe sempre a possibilidade de renegociar as condições com o banco actual ou de transferir o crédito para outra instituição com uma proposta mais competitiva.
Este Explicador contém informações do site Doutor Finanças.