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Agricultores em França mantêm protestos apesar de menor mobilização

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Foto AFP

Os protestos dos agricultores franceses contra a política sanitária do governo para o gado e o acordo comercial com o Mercosul, perdeu intensidade, mas mantêm-se bloqueios de estradas e manifestações, sobretudo no sudoeste do país.

Segundo o Ministério do Interior francês, no domingo foram registadas 23 ações envolvendo 720 pessoas, principalmente no sudoeste, em comparação com 50 ações no sábado, 93 na sexta-feira e 110 na quinta-feira.

Na madrugada de domingo para segunda-feira, um novo bloqueio de estrada foi removido em Tarascon-sur-Ariège (sudoeste), ligação entre França e Andorra, após dez dias de protestos. 

No departamento dos Pirenéus Atlânticos, os agricultores recusam abandonar o seu acampamento na auto-estrada A64, perto de Bayonne e junto à fronteira com Espanha, até ao fim do abate total de animais afetados pela dermatite nodular contagiosa.

Na outra extremidade da A64, em Carbonne, perto de Toulouse, um pequeno grupo de agricultores ainda se concentrava hoje num bloqueio decorado com pinheiros, cujos ramos exibiam cartuchos vazios de gás lacrimogéneo, disparados, segundo os agricultores, no departamento de Ariège, onde o protesto agrícola começou a 10 de dezembro.

Desde o aparecimento da doença bovina em França este verão, na região de Savoie (leste), o governo francês tem tentado conter a propagação do vírus com base em três pilares: abate sistemático assim que um caso é detectado, vacinação e restrições de circulação.

O gado localizado numa área que abrange dez departamentos no sudoeste deverá ser vacinado até meados de janeiro.

Apesar do abrandamento dos protestos, o trânsito continua interrompido em várias autoestradas do sudoeste, como a A63 perto de Bordéus e a A64 entre Toulouse e Bayonne, segundo representantes sindicais contactados pela AFP.

Apesar dos apelos do governo para uma "trégua" com a aproximação das festas de fim de ano, continuam a surgir novos protestos.

Em Reims (leste), cerca de trinta agricultores e vinte tractores foram mobilizados na manhã hoje num bloqueio, distribuindo leite aos condutores.

A França lidera um grupo de países que se opõe à parceria entre União Europeia (UE) e Mercado Comum do Sul (Mercosul), aos quais se juntou recentemente Itália, permitindo uma minoria de bloqueio.

O acordo abrange os 27 Estados-membros da UE mais Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o equivalente a 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.

Após o anúncio do fim das negociações em dezembro de 2024, a UE e os países do Mercosul tentam finalizar aquele que será o maior acordo comercial e de investimento do mundo, que servirá um mercado de 700 milhões de consumidores, no âmbito do reforço da cooperação geopolítica, económica, de sustentabilidade e de segurança.

No sábado passado chegou a estar prevista uma deslocação da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Brasil para a assinatura oficial do acordo UE-Mercosul, mas devido ao ceticismo de alguns Estados-membros tal oficialização foi adiada para meados de janeiro.

A Comissão Europeia aguarda agora a aprovação por maioria qualificada do Conselho da UE (os países), num acordo que está a ser negociado há 25 anos.

Na passada terça-feira, o Parlamento Europeu aprovou salvaguardas relativas ao acordo e, esta madrugada, o Conselho da UE chegou a acordo sobre cláusulas de salvaguarda do acordo comercial para proteger os agricultores europeus do potencial impacto negativo de um aumento das importações latino-americanas.

A Comissão Europeia prometeu hoje apoio aos países e agricultores da União Europeia (UE) para poder fechar o acordo com os países do Mercosul "o mais rapidamente possível".

"A Comissão está pronta para apoiar os Estados-membros com vista a assinar o acordo com o Mercosul o mais rapidamente possível. Tomamos nota do plano do Conselho de tomar uma decisão no início do próximo ano e tomamos igualmente nota do apoio de uma clara maioria dos Estados-membros a este acordo", afirmou um porta-voz do executivo comunitário, numa informação divulgada à imprensa em Bruxelas.

Dias depois de a UE ter decidido adiar para janeiro a assinatura oficial do acordo com o Mercosul, a Comissão Europeia afirmou acreditar "firmemente na relevância deste acordo para a posição global da Europa". 

Depois de grandes manifestações em Bruxelas no final da semana, a instituição vincou que "para os agricultores da UE, o acordo apresenta novas oportunidades, com um potencial aumento de 50% nas exportações agroalimentares da UE para a região e a proteção contra imitações de produtos alimentares e bebidas tradicionais de alta qualidade da UE".