Silly season de final de ano
Este ano passou rápido demais. Estamos novamente no Natal. Toda a dinâmica da época faz-nos lembrar que estamos na “Festa”. São as luzes, os convívios, as missas do parto e do galo. É a “Noite do Mercado”. É a azáfama da limpeza e decoração das nossas casas para a chegada do Natal e Ano Novo. Mas o mais bonito da “Festa” é a reunião da família. Reunião com alguns bons membros da família, mas sobretudo com a família que temos a oportunidade de construir ao longo da vida - os verdadeiros amigos que, pelo seu carácter e bondade, trazem paz e serenidade à nossa vida.
Este ano, quem teve saúde ao longo do ano, ganhou o Euromilhões e nem se apercebeu.
Quem teve trabalho e conseguiu pagar todas as suas contas, ainda sem grande margem de manobra financeira, conseguiu sobreviver o ano com dignidade. Ganhou a loteria e nem se apercebeu.
Quem com mais ou menos aperto na algibeira, conseguiu alimentar-se decentemente durante todo o ano, provendo uma alimentação condigna a toda a sua família, agradeça, pois está muito melhor que muitos. Viveram como “lordes” e nem se deram conta.
Não quero retirar-vos a alegria da “Festa”, mas se este ano vivemos com o cinto mais apertado do que os anos anteriores, para o próximo ano estão já previstos novos aumentos de preços em vários produtos alimentícios, o que vai obrigar-nos a nova ginástica financeira para conseguirmos uma alimentação saudável. É melhor não abusar muito nas borgas deste Natal. Como diz o povo, por vezes, “Dias de fartura são vésperas de miséria”.
Quem não teve de lidar com o problema da habitação, com ações de despejo, aumentos de rendas exacerbados, sem saber onde vai poder descansar num futuro próximo, viveu o ano com o Eurodreams mensal.
Mas como nem tudo são rosas, politicamente a entrega dos orçamentos do Governo para o próximo ano e o Plano de Investimentos para o ano seguinte quer nacional, quer regional foram marcados por outras questões que mais parecem de “silly season”.
A nível regional, o tema de conversa é o Governo Regional preocupado com as bolas… do Golf…
Seria muito mais interessante uma verdadeira discussão no ordenamento do nosso território, baseado numa grande visão do Plano para médio e longo prazo, análise dos grandes problemas da nossa Região e da nossa população para o futuro com análise prospetiva dos vários cenários do que poderá vir a ocorrer com base num desenvolvimento económico e social sustentável. Mas isto não é sequer ponto de discussão.
E para o turismo? Qual a visão estratégica para o futuro? Que tipo de turista queremos? Como fazer o desenvolvimento da Madeira com um turismo sustentável? A estratégia é apenas restringir percursos pedestres? É asfaltar estradas atrás de estradas? É somente criar horários para a utilização do Fanal? É só Golf? É utilizando as terras férteis de produção agrícola para a criação de campos de Golf? Qual a visão para a agricultura? Falta de agricultores? Mas quais os verdadeiros apoios para a manutenção de uma agricultura adequada à nossa dimensão? Que apoios recebem os nossos agricultores?
E como vamos montar o novo Hospital? Como está a ser preparada a instalação dos equipamentos hospitalares? Está garantida a montagem atempada dos equipamentos? E como está o stock de medicamentos especializados no serviço regional de saúde? Como ficará o apoio de saúde prestado às populações mais rurais? Tudo se resolve com a rede viária e transporte de doentes para o hospital? Na ausência de respostas cabais aos nossos reais problemas vamos fazer o quê? Na hora logo vemos? Vamos todos jogar no bingo ou agarrar-nos às bolas para acertar no buraco à espera que jorra dinheiro?
Pode ser que aconteça-nos o que aconteceu com Marques Mendes que, ao que parece, nem se apercebeu que recebia 5.000 euros mensais de um empresário. Digam-me como se faz isso para enviar o meu IBAN, mas já aviso que não estou disponível para vender a minha alma. Algo estranho para quem se candidata a Presidente da República.
E quais os planos do governo para se preparar para a existência de uma população cada vez mais envelhecida? Lares são importantes, mas não devem, nem podem ser a única solução de apoio às famílias no cuidado dos seus idosos. Onde está um plano de apoio que inclua formação de cuidado a prestar aos mais idosos para que todos possam viver no seu ambiente familiar? Não me venham com a conversa de abandono de idosos no hospital. O que é necessário é ainda mais apoio à rede de suporte às famílias para manterem os seus idosos em casa.
Quanto ao apoio aos estudantes universitários madeirenses e portosantenses, como pretende o Governo Regional apoiar as famílias para garantir que não exista abandono universitário causado pela crise habitacional? A educação é das políticas governamentais que mais criam externalidades positivas na economia a longo prazo. Não tenhamos o pensamento enviesado do Ministro da Educação que considera que as residências universitárias com os mais pobres se deterioram mais. As residências universitárias são para quem? Para quem pode pagar um apartamento? Evidentemente que são para os alunos das famílias mais carenciadas. E evidentemente que, como qualquer investimento público, exige manutenção. Não é preciso ser-se engenheiro para chegar a esta conclusão. E não é para estes mais carenciados que existe um governo? Para garantir equidade entre toda a população? Valha-nos Nossa Senhora.
2026 entrará nas nossas vidas trazendo com ele vários desafios. Não quero tirar-vos a felicidade do momento. Longe de mim. Atrevo-me mesmo a aconselhar-vos a viver com alegria enquanto ainda não é criado o imposto sobre a felicidade!