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Género e pobreza condicionam interesse e confiança na política

Foto Shutterstock
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O género e as condições económicas condicionam as atitudes sociais e políticas, revela um estudo, que mostra que as mulheres e os grupos mais pobres são os que menos se interessam por política e menos confiam no sistema político.

Numa nota complementar ao relatório "Portugal, Balanço Social 2025" sobre "Quem Somos e Como Pensamos? Desigualdades de Género e Rendimento nas Atitudes Sociais", a equipa de investigadores da Nova SBE mostra que, ao nível do posicionamento político, as mulheres e as pessoas mais pobres frequentemente são os que demonstram não ter nenhum interesse por política.

Mais de 90% das mulheres e das pessoas mais pobres apoiam as políticas de redistribuição de rendimentos pelo governo. Portugal, Balanço Social 2025

São também os que têm menos confiança no sistema político em Portugal, com 40% das mulheres e 50,1% dos mais pobres a defenderem que o sistema não dá voz às pessoas, enquanto quase metade das mulheres e 56,9% das pessoas mais pobres acreditam que as pessoas não conseguem influenciar a política.

"Analisando a posição, verifica-se que as mulheres tendem a posicionar-se mais à esquerda ou centro-esquerda (37,5% face a 29% nos homens), enquanto os homens se distribuem mais pela direita ou centro-direita (34,9% face a 26,7% das mulheres)", lê-se no estudo, que acrescenta que esse posicionamento também varia consoante os rendimentos e que entre os mais ricos a identificação com valores de direita é duas vezes superior à observada nos mais pobres.

As mulheres e as pessoas mais pobres são menos abertas à imigração. Portugal, Balanço Social 2025

Em matéria de valores, o estudo mostra "diferenças significativas" associadas ao género e ao rendimento, com as mulheres e as pessoas mais ricas a valorizarem "viver num sítio seguro" (68,8% e 72,9%, respetivamente), enquanto para os homens (33,3%) e para os mais pobres (31,7%) é mais importante as pessoas fazerem o que lhes mandam e cumprirem sempre as regras.

A confiança social tem níveis "especialmente baixos" entre mulheres e pessoas mais pobres, enquanto a autoridade é valorizada pelos mais pobres e pelos homens. Já na justiça social, são as mulheres e as pessoas com rendimentos mais elevados que demonstram maior preocupação com os direitos da comunidades Lésbica, Gay, Bissexual, Trans, Queer e Intesexo (LGBTQIA).

Os homens e os mais pobres têm mais opiniões sexistas; 60,2% dos pobres e 64,2% dos homens consideram que as mulheres distinguem melhor entre o bem e o mal e que os homens devem proteger as mulheres. Portugal, Balanço Social 2025

O estudo analisou o posicionamento em relação à imigração e concluiu que houve "uma alteração significativa das posições entre 2016 e 2023", tendo aumentado, tanto entre homens como mulheres, a perceção generalizada de que a "imigração tem um impacto económico positivo".

"As opiniões sobre o impacto da imigração variam consoante o género e o rendimento, com as mulheres e as pessoas mais pobres a serem identificados como os grupos menos abertos à imigração. A origem étnica dos imigrantes não influencia de forma significativa a perceção", revela o estudo.

As políticas de discriminação positiva são apoiadas por mais de 60% das pessoas, e especialmente entre as mulheres e os mais ricos.  Portugal, Balanço Social 2025

Já no que diz respeito à posição sobre igualdade de género, "as opiniões sexistas persistem, sobretudo entre os homens e os indivíduos com menores rendimentos, refletindo-se na crença de que as mulheres têm maior capacidade para distinguir entre o bem e o mal e na ideia de que os homens devem proteger as mulheres".

Aponta que a discriminação contra as mulheres acontece sobretudo em contexto laboral, enquanto contra os homens "surge mais associada a interações com a polícia".

A percepção de que a imigração tem impacto económico positivo aumentou para todos os grupos, enquanto a percepção de que a imigração enriquece culturalmente o país diminuiu. Portugal, Balanço Social 2025

 Desigualdade de género tem também reflexo no cuidado informal, "com as mulheres e os mais pobres a assumirem significativamente mais horas de cuidados intensivos (+40 horas por semana)".

Este estudo foi realizado com base nos microdados do Inquérito Social Europeu e utilizando uma amostra de 1.373 residentes em Portugal, sendo da responsabilidade da universidade Nova SBE, Fundação La Caixa e BPI.