Jovens sentem-se mais representados nas políticas europeias do que nacionais
Os jovens portugueses sentem-se mais representados pelas políticas europeias do que pelas nacionais, segundo um estudo divulgado hoje que justifica o distanciamento face à política com a falta de literacia e a comunicação desajustada dos partidos.
A conclusão consta do estudo "ID Jovem: Juventude em Números", apresentado hoje pelo Conselho Nacional de Juventude (CNJ) na Assembleia da República, com base num inquérito a 3.025 jovens e vários grupos focais com pessoas entre os 15 e 30 anos.
Com o objetivo de fazer um levantamento sobre a realidade da juventude portuguesa, um dos eixos avaliados foi o envolvimento dos jovens na vida coletiva, através da participação política, do voluntariado, e do associativismo.
No que respeita à participação eleitoral, o relatório refere que o voto é reconhecido, de forma ampla, como um direito e um dever democrático, mas questionados sobre as últimas e as próximas eleições, muitos admitiram, no âmbito dos grupos focais, que não votaram nem têm intenção de o fazer.
Entre os motivos, dizem que o processo de decisão é confuso, burocrático e distante e queixam-se de que falta literacia política nas escolas que, defendem, deveriam ter um papel "mais ativo para temas eleitorais e na promoção do pensamento crítico".
Por outro lado, apontam também um distanciamento face ao discurso político e aos partidos.
"Os políticos, nomeadamente os partidos políticos, não têm sabido adaptar a linguagem ao século XXI, continuam a falar para os jovens como se falava há 30, há 40 ou há 50 anos", refere o presidente da CNJ, André Cardoso, em declarações à Lusa.
Além do tipo de discurso, sentem que os políticos, em Portugal, não falam para as pessoas jovens, nem sobre temas que lhes dizem respeito, perceção que contrasta com o que sentem em relação à União Europeia.
Segundo os resultados do inquérito, 84% dos jovens sentem-se ligados à identidade europeia e três em cada quatro consideram que as políticas e a legislação da União Europeia têm em conta as necessidades e preocupações dos jovens.
"Há uma perfeita noção de que aquilo que é implementado dentro das nossas fronteiras, não se resume a nós. Vivemos numa sociedade global e precisamos dos nossos vizinhos, quer estejam mais perto, que estejam mais longe", explica André Cardoso, considerando que os jovens "sentem esta proximidade, comparativamente com o afastamento político a que vimos assistindo ao nível nacional".
Além da participação eleitoral, o estudo avaliou também o envolvimento dos jovens em voluntariado e associativismo e a maioria parece ficar de fora.
Segundo as respostas ao inquérito, apenas quatro em cada 10 jovens participaram em atividades de voluntariado no último ano ou integram alguma associação.
A falta de tempo, em conciliação com o trabalho ou os estudos, é apontada como uma das principais barreiras, apesar de associarem tanto o voluntariado como o associativismo a espaços de crescimento pessoal, aprendizagem, convivência e comunidade.
Ainda assim, durante os grupos focais, muitos jovens partilharam uma perceção de desvalorização social e institucional das associações, em particular associações estudantis, e de falta de reconhecimento ou valorização do trabalho voluntário.
Por isso, os autores falam numa certa "paralisia participativa", associada a alguma desconfiança nas instituições, baixa perceção de impacto real e ausência de hábitos de envolvimento.