Gouveia e Melo quer união, Ventura acusa-o de estar em cima do muro e cola-o ao PS
O candidato presidencial Gouveia e Melo afirmou hoje que o seu objetivo cimeiro é unir os portugueses e não instigar ódios, enquanto André Ventura acusou-o de estar em cima do muro e de pretender ser candidato do PS.
No debate televisivo da RTP, moderado pelo jornalista Carlos Daniel, o líder do Chega procurou colar o ex-chefe do Estado-Maior da Armada ao PS, invocando a sua estrutura de apoio e uma declaração sua em que colocou Mário Soares como referência de Presidente da República.
André Ventura tentou também passar a ideia de que o almirante não se define em matérias que considerou essenciais, como as políticas de imigração, a lei da nacionalidade ou uma revisão constitucional, por pretender estar "em cima do muro" e querer "agradar a todos".
Durante os 30 minutos de debate, Gouveia e Melo defendeu-se destes ataques, dizendo que se coloca no centro político, o que disse gerar "incompreensões" entre pessoas de esquerda e de direita. Alegou que o país precisa de marchar com a perna esquerda e com a direita, e não apenas como uma delas.
Aceitou que Mário Soares é uma sua referência como Presidente da República, mas à qual juntou o general Ramalho Eanes. Disse então a Ventura que os dois foram essenciais em defesa da democracia e que o seu oponente não estaria agora a candidatar-se a Belém se não fosse a ação de Eanes e Soares.
Antes, o presidente do Chega tinha considerado que Gouveia e Melo, ao apontar Mário Soares como referência de Presidente, estava a fazer "uma traição às Forças Armadas e aos retornados".
Mas foi mais longe, indicando que o antigo primeiro-ministro José Sócrates também pretendia votar no almirante para impedir que ele, Ventura, chegasse ao poder.
"Só mostra que estou no bom caminho, porque [Sócrates] sabe que se eu ganhar ele vai para a prisão", rematou.
Na questão da revisão Constitucional, o almirante referiu que o Presidente da República não tem papel nesse processo -- mas sim o parlamento --, mas considerou aceitável uma mudança da Lei Fundamental aprovada por dois terços de partidos da direita na Assembleia da República, desde que não ponha em causa o artigo 288, que define os limites materiais de revisão.
Na abertura do debate, André Ventura congratulou-se com os resultados da última sondagem da Universidade Católica que o coloca à frente na primeira volta, mas antecipou que na segunda volta, seja contra Gouveia e Melo, ou contra Marques Mendes, o resto vai unir-se contra ele.
"Se for Gouveia e Melo, o PSD vai apoiar Gouveia e Melo? Se for Marques Mendes, o PS vai apoiar Marques Mendes? Ou seja, só mostra como serão todos contra mim. Isso mostra que estou certo", disse. Ventura vincou que o seu objetivo é dar "um murro na mesa" contra o sistema político.
Já o ex-chefe do Estado-Maior da Armada desvalorizou esse estudo de opinião que o coloca em terceiro lugar e alegou que várias sondagens já falharam em larga escala mesmo a poucos dias das eleições. Mesmo assim, acabou por comentar a sua situação no conjunto das sondagens.
"Não fazendo parte do sistema partidário, estou numa luta partidária em que todos os partidos têm os seus candidatos e naturalmente tentam atrair os votos do partido. Sou o único que não tenho partido. Se os portugueses me escolherem, tentarei unir verdadeiramente Portugal. Unir Portugal tem de ser todo o espetro político", contrapôs, após ter alertado para a existência de uma conjuntura internacional muito difícil.
Interrogados sobre o almoço que ambos tiveram antes de o líder do Chega ter anunciado a sua candidatura a Belém, Gouveia e Melo justificou que quis apenas conhecer os diferentes interlocutores políticos.
"O doutor André Ventura não é um indivíduo que seja perigoso e que eu não possa almoçar com ele", respondeu.
No mesmo registo, o presidente do Chega retirou significado político a esse encontro e afirmou que "era o que faltava" se não pudesse almoçar com Gouveia e Melo. Revelou então que já tomou café com Marques Mendes a seguir a um Conselho de Estado e que também conversou com António José Seguro.
No debate, o líder do Chega procurou associar Gouveia e Melo ao grupo signatário do "Manifesto dos 50", que contesta o funcionamento da justiça e do qual faz parte o mandatário nacional do almirante, o ex-presidente do PSD Rui Rio.
Porém, Gouveia e Melo demarcou-se desse grupo. E, quando confrontado por Ventura com uma alegada intenção de Rui Rio de controlar a justiça, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada reagiu: "Mas não sou eu".
Neste frente-a-frente, o presidente do Chega voltou a defender a castração química de pedófilos, aproveitando o caso de um adjunto da antiga ministra socialista da Justiça Catarina Sarmento e Castro estar em prisão preventiva. Fez então questão de salientar que esse suspeito "é do PS".