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O outono no Paraíso

As eleições autárquicas cumpriram-se e o povo correspondeu. Nestas últimas semanas, os eleitos têm tomado posse, e destaco os casos do Município da Ponta do Sol e do Município de São Vicente, que, por distintas razões, mudaram de rumo. Célia Pessegueiro, afetada pela proximidade com a “infeção viral” de Cafôfo, sucumbiu no apeadeiro como muito deste PS moribundo. São Vicente, enquanto município transformado numa arena de fratricidas alaranjados, foi fértil e oportuna para o CHEGA, condenado a crescer em todo o lado. Todavia, registo a constância do crescimento sustentado do JPP que, decididamente, está a pulverizar toda a região, com destaque para os seus dois vereadores no Funchal, bem como a permanência do CDS na Câmara de Santana cujo edil tem-se afirmado como um dos raros centristas que se recusam a diluir e a fundir na voragem aritmética da maioria agregada com o PSD, na troca pela distribuição de tachos.

No Porto Santo, o PSD, com clivagens locais, ainda se manteve, e o choradinho habitual de janeiro está novamente garantido, tal como o enfadonho Festival do Colombo, quando o ferry da linha do Porto Santo se ausentar para a manutenção, revisão, eletrificação, descarbonização ou outra coisa qualquer.

Na proposta do próximo Orçamento de Estado (OE) para a RAM, o governo central contraria Eduardo Jesus quando este, ainda no início do passado mês de outubro, afirmou, “confiante” como um Apolo grego, que o Estado Central teria a bendita “plataforma” operacional até 31 de dezembro, de maneira a tornar mais célere o pagamento do Subsídio Social de Mobilidade aos locais insulares. Na mesma proposta, não se vislumbra qualquer ligação ferry com o continente, a não ser a realização de mais um estudo encomendado (para dar o resultado pretendido), até porque a Região já é servida por mais um excecional porta-contentores de segunda mão, porém mais comprido, para acomodar a demanda de mercadorias e o inamovível modelo do contentamento regional, que faz dos madeirenses um dos povos mais felizes e abastados do mundo.

Soubemos, há dias, de mais uma decisão judicial cujo desfecho já se previa mais certo que a ausência de ferry em janeiro no Porto Santo. O inquérito sobre os incêndios que fustigaram vários concelhos na Madeira em agosto de 2024 foi arquivado. Sem assombro nenhum, a culpa morreu solteira, tal como em 2017, quando o carvalho abateu 13 pessoas no Monte. O bom da nossa matriz judaico-cristã é que nem sempre há de haver dolo nem culpa. Qual a justiça humana que, na verdade, vai questionar o insondável desígnio do Criador ou da divina Providência – essa entidade incorpórea inatingível de barreiras inexpugnáveis?

Mais vale rezar a agradecer todos os nossos radiosos dias neste Jardim do Éden.