O caso Odair Moniz

O caso de Odair Moniz reacendeu aquela velha tendência portuguesa de arranjar sempre um “coitadinho” e um “monstro”. Desta vez, o “coitadinho” é um homem que, a crer nas imagens, ignorou ordens claras, desobedeceu, fugiu e criou uma situação de risco. O “monstro” é o agente policial que, numa fração de segundo, teve de decidir como controlar alguém que não colaborou em nada. E como sempre, quando toca à polícia, metade do país arma-se em perito de operações especiais.

Há um ponto que muita gente não quer encarar: a conduta da própria vítima também concorreu para o resultado final. Isto não é falta de humanidade, é apenas reconhecer que as ações têm consequências. Se alguém se coloca numa situação de confronto, aumenta o risco para si e para os outros. A polícia não dispara para se divertir, dispara quando sente que a sua integridade ou a segurança pública está em causa.

Depois aparece a conversa de sempre: “Ah, mas o agente podia ter feito isto… podia ter feito aquilo… devia ter respirado fundo, meditado, telefonado a um psicólogo e só depois agir.” É o típico raciocínio de sofá. Lá no momento, em segundos, o agente está preso por ter cão e por não ter:

*Se intervém com firmeza, é violento;

*Se hesita, é incompetente;

*Se não age e algo pior acontece, é irresponsável.

É este clima que afasta os jovens de concorrer à polícia. Não é o ordenado, não é o equipamento, não é a dureza do trabalho, é a certeza de que, quando precisarem do benefício da dúvida, vão ser logo crucificados na praça pública. Exige-se que os agentes arrisquem a vida, mas parece que já não se aceita que também sejam humanos, com medo, com adrenalina, com segundos para decidir.

Se queremos segurança a sério, temos de parar de infantilizar a sociedade e diabolizar quem veste a farda. A justiça fará o seu trabalho. Mas o debate público tem de deixar de tratar os criminosos como santos incompreendidos e os polícias como vilões automáticos. Isto sim, já cansa. Vamos deixar que o tribunal diga de sua justiça.

António Rosa Santos