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"É aos leitores que compete um juízo muito importante" sobre o novo livro 'Desamores em português'

Deodato Rodrigues apresentou a sua terceira e nova obra, esta quarta-feira, no Teatro Municipal Baltazar Dias

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Fotos Rui Silva/ASPRESS

Marta Cília, jornalista da RDP-Madeira, e Carlos Diogo Pereira, editor, estiveram com o autor no local da apresentação do livro

O escritor Deodato Rodrigues apresentou esta quarta-feira, no Teatro Municipal Baltazar Dias, o seu terceiro romance, 'Desamores em português', uma obra que marca uma viragem na sua trajectória literária ao abandonar o cenário madeirense dos seus livros anteriores. A obra é editada pela Cadmus, criada em 2016 e que integra, actualmente, o universo editorial da nova Associação para Promoção da Herança Madeirense, uma estrutura colectiva nascida da acção cultural da Académica da Madeira.

"Este livro é substancialmente diferente dos anteriores. Os dois primeiros 'viveram' na Madeira, todos os seus personagens, mas todo o enredo é extraordinariamente localizado e este passa-se entre Lisboa e Lourenço Marques", explicou o autor durante a apresentação, assumindo a expectativa quanto à recepção desta nova empreitada: "Vamos ver qual é a reacção dos leitores, sendo certo que a eles compete um juízo muito importante" sobre este seu terceiro livro.

Ambientado nas cidades de Lisboa e Lourenço Marques (actual Maputo) entre as décadas de 50 e 80 do século XX, 'Desamores em português' desenrola-se no contexto do crepúsculo do império colonial, com a Guerra Colonial como pano de fundo. O romance aborda temas provocadores como o imaginário colonial, o papel da mulher na família e na sociedade, a ambição, a pedofilia, a prostituição, as violações e os abusos sexuais.

Apesar de se afastar do cenário regional, a Madeira surge numa passagem "extraordinariamente simbólica", como destacou Deodato Rodrigues durante a apresentação, conduzida pela jornalista Marta Cília, da RDP-Madeira, e pelo editor da obra, Carlos Diogo Pereira. A acção contempla a chegada do paquete 'Príncipe Perfeito' ao Funchal em 1964, transportando o Almirante Américo Tomás numa viagem até Moçambique para inaugurar o Aeroporto de Santa Catarina.

"A fotografia que o livro contém sobre isso é muito relevante, porque é uma fotografia do barco a atracar que praticamente cobre a figura da ilha. Isso é relevante porque, no fundo, demonstra aquilo que algumas das pessoas pensavam na altura sobre a Madeira, que era mais uma colónia", sublinhou o escritor.

O romance coloca o leitor num contexto dramático, explorando as tensões, ambições e indecências no seio da família Furtado. As personagens femininas assumem particular relevância, permitindo uma leitura crítica das suas personalidades complexas e subjugadas pelo homem paternalista e colonizador.

Houve ainda tempo para abordar questões como a dificuldade que existe em editar livros na Madeira, pelo que a existência de editoras a nível regional é importante senão "nada feito", conforme sublinhou Deodato Rodrigues.

'Desamores em português' estará à venda nas principais livrarias de Funchal e na Imprensa Académica. O autor revelou ainda que os seus dois primeiros livros serão reeditados pela Imprensa Académica para a Feira do Livro de Funchal do próximo ano.

Casa cheia na apresentação do livro

A apresentação do livro contou com sala cheia, onde pontuaram personalidades conhecidas como Jorge Carvalho, presidente da Câmara Municipal do Funchal, Sandra Nóbrega, directora do Departamento de Cultura do Funchal, Carlos Pereira, empresário e antigo presidente do Marítimo, Francisco Fernandes, escritor e antigo secretário regional da Educação, Guida Vieira, sindicalista e antiga deputada, Bernardo Martins, antigo presidente da Câmara Municipal de Machico, entre outros.

Sobre Deodato Rodrigues

É o autor de três romances — 'O intenso labor dos tentilhões' (2023, editado pela Cadmus), 'Antes que a cidade morra' (2024, distinguido pelo júri do Prémio Literário Cidade do Funchal – Edmundo de Bettencourt com menção honrosa) e agora 'Desamores em português', que inicia a nova coleção que a Cadmus colocou no prelo e que irá contar com novas edições dos volumes precedentes.

A obra de Deodato caracteriza-se por uma atenção minuciosa à experiência humana e à complexidade das relações, sempre entrelaçada com uma narrativa cuidada e sensível. Deodato Rodrigues cria personagens facilmente relacionáveis, que nos espelham em dilemas familiares, desafios que nos mudam a vida ou pequenas fragilidades humanas. Outras ainda mexem profundamente com o leitor, desafiando-o a confrontar-se com o lado mais obscuro da condição humana. Entre a empatia e o desconforto, apelam à reflexão e tornam cada história uma experiência intensa e imprevisível. Editora Cadmus

A trajectória profissional de Deodato Rodrigues é marcada por uma dedicação profunda à Educação e ao Desporto. Leccionou em todos os graus de ensino, tendo tido contacto directo com múltiplas gerações, e desempenhou funções de relevo na administração pública regional, incluindo Vogal do Conselho Directivo do Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira e adjunto na Secretaria Regional de Educação. Para além disso, experimentou a gestão desportiva e o jornalismo, experiências que enriqueceram a sua visão do mundo e alimentaram a autenticidade e a diversidade temática das suas obras.

Hoje escreve com a serenidade de quem percorreu uma trajectória completa e a energia de quem ainda tem muito por dizer. Mantém viva a convicção de que “escrever por gosto (também) não cansa” e afirma o compromisso de publicar, enquanto tiver anos para escrever, um livro por ano. A sua obra é marcada por uma busca contínua de sentido, pela exploração das nuances da vida quotidiana e pela tentativa de criar pontes entre experiências individuais e coletivas. Com este terceiro romance, Deaodato reafirma a consistência de um projecto literário em crescimento e a atenção às pequenas grandes histórias que moldam a nossa existência, mostrando que, para ele, cada livro é tanto um ponto de chegada como um novo início. Editora Cadmus