Finlândia exorta Europa a resistir e manter apoio a Kiev até cessar-fogo
O Presidente da Finlândia considerou, numa entrevista divulgada hoje, que um cessar-fogo na Ucrânia é improvável antes da primavera e que os aliados europeus devem manter o apoio a Kiev, apesar do escândalo de corrupção.
"Não estou muito otimista quanto à possibilidade de alcançar um cessar-fogo ou o início de negociações de paz, pelo menos este ano", disse Stubb, acrescentando que seria bom "fazer algo acontecer" até março.
Em entrevista à Associated Press (AP), Stubb afirmou que a Europa precisará de "sisu" (uma palavra finlandesa que significa resistência, resiliência e determinação perante a adversidade) para superar os meses de inverno, enquanto a Rússia continua com os ataques híbridos e uma guerra de informação em todo o continente.
Stubb disse ainda à AP que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, deve lidar rapidamente com as alegações de subornos e desvio de fundos, afirmando que este escândalo favorece a Rússia.
Apesar do escândalo, exortou os líderes europeus a considerarem aumentar o apoio financeiro e militar a Kiev, que também enfrenta ganhos crescentes à Rússia no campo de batalha.
As três grandes questões no caminho para um cessar-fogo são as garantias de segurança para a Ucrânia, a reconstrução da economia e chegar a algum tipo de entendimento sobre as reivindicações territoriais, disse.
Para trazer paz à Ucrânia, Stubb disse que Trump e os líderes europeus precisam maximizar a pressão sobre a Rússia e Putin, a fim de mudar o seu pensamento estratégico.
Putin "basicamente quer negar a independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia", objetivos que não mudaram desde o início da guerra, há quase quatro anos, salientou Stubb.
O Presidente finlandês sugeriu o uso de ferramentas como as centenas de milhares de milhões de dólares em ativos russos congelados na Europa para financiar a Ucrânia, bem como o aumento da pressão militar sobre Moscovo.
O responsável finlandês tem aproveitado a sua boa relação com o Presidente dos Estados Unidos --- os dois jogam golfe juntos e conversam regularmente --- para defender a causa da Ucrânia.
"Posso explicar ao Presidente [norte-americano Donald] Trump, o que a Finlândia passou [com a Rússia], como vejo a situação no campo de batalha ou como lidar com [o Presidente russo, Vladimir] Putin. E então, se ele aceitar uma em cada dez ideias, já está bom", disse.
Stubb falou com a AP no sábado, numa base militar a norte da capital Helsínquia, onde observou voluntários finlandeses a participar num treino de defesa, vestindo um casaco precisamente com a palavra "sisu" estampada nas costas.
Durante a entrevista, elogiou Trump por sancionar as grandes empresas energéticas russas Lukoil e Rosneft em outubro, dizendo que fez "um excelente trabalho", mas argumentou que é preciso fazer mais para dar à Ucrânia a capacidade de atingir a "indústria militar ou de defesa" da Rússia.
No mês passado, Trump negou um pedido ucraniano de mísseis 'Tomahawk' de longo alcance que, teoricamente, permitiriam à Ucrânia atacar mais profundamente a Rússia -- embora Kiev não tenha atualmente nenhum lançador ou plataforma para os disparar.
A Ucrânia ainda está a negociar com os EUA para obter mais poder de fogo, indicou Stubb.
A Finlândia, um dos países mais pequenos da Europa, partilha uma fronteira de 1.340 quilómetros com a Rússia.
Na década de 1940, após duas guerras com a Rússia, a Finlândia perdeu cerca de 10% do seu território para Moscovo e concordou em tornar-se militarmente neutra.
No entanto, as perdas da Finlândia foram muito menores do que poderiam ter sido, pois as tropas finlandesas demonstraram "sisu" e infligiram pesadas perdas ao exército soviético, apesar de estarem em grande desvantagem numérica.
A postura neutra da Finlândia só se reverteu após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022, quando os finlandeses aderiram à NATO.