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Quatro mortos e quatro crianças levadas após ataque em aldeia em Cabo Delgado

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Foto Shutterstock

Pelo menos quatro pessoas morreram carbonizadas após um ataque de supostos terroristas na aldeia Napala, província moçambicana de Cabo Delgado, com registo ainda de quatro crianças raptadas, disseram hoje à Lusa fontes da comunidade.

O ataque, hoje conhecido, aconteceu entre os dias 10 e 11 de outubro, numa aldeia do posto administrativo de Chiúre Velho, que dista 40 quilómetros da sede do distrito de Chiúre, sul daquela província, depois de os populares abandonarem o local devido a ataques de grupos de insurgentes.

Entretanto, embora sem condições na aldeia, os populares começaram a regressar e encontraram um cenário de destruição e morte.

"Lamentamos a morte de quatro idosas. Os terroristas quando chegaram queimaram todas as casas e mataram-nas", disse uma fonte a partir da sede de Chiúre.

Em Napala, segundo os relatos locais, foram queimadas por estes grupos mais de 2.500 casas de construção artesanal, afetando cerca de 3.800 pessoas. Também uma escola local foi incendiada, deixando sem aulas mais de 500 alunos.

"Queimaram toda a aldeia. As casas que ficaram nem a dez chegam", lamentou outra fonte.

Além da morte e destruição, os terroristas são suspeitos de terem raptado quatro menores, com idades compreendidas entre 10 a 13 anos.

"Levaram quatro crianças que até hoje não sabemos o seu paradeiro", explicou a fonte.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

A ONU estimou na terça-feira que pelo menos 44 pessoas morreram e outras 208 mil foram afetadas no mês de agosto pelos ataques de grupos extremistas em Cabo Delgado.

De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), até agosto, Moçambique também reportou um total de 111.393 pessoas deslocadas, a maioria provenientes de Cabo Delgado (109.118), apesar de terem sido registadas movimentações de pessoas nas províncias de Niassa e Nampula.

"Os civis continuam a enfrentar graves riscos de segurança e proteção, incluindo raptos, pilhagens e ameaças", refere-se no documento, acrescentando-se que estes incidentes, em agosto, "resultaram em 44 mortos e 101 raptados, entre eles seis crianças e cinco mulheres".

Acresce que a insegurança, combinada com reduções "significativas" no financiamento humanitário, limitou "severamente" a capacidade dos parceiros para alcançar as populações afetadas.

"A violência contra civis, as operações militares, os avistamentos dos grupos armados não estatais e os rumores de raptos e pedidos de resgate tornaram o acesso imprevisível nos distritos com maior gravidade de necessidades e incidentes", descreve o relatório, acrescentando que a situação resultou na suspensão temporária das missões humanitárias nas zonas rurais dos distritos de Macomia, Quissanga, Muidumbe, Mocímboa da Praia, Meluco e Metuge no início de agosto.

Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques que se registam em Cabo Delgado.

O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.