O aviltamento dum sistema

Quando avaliamos a possibilidade de acreditar em muitas das situações que nos levam à credibilidade das mesmas, temos a sensação de que afinal nem tudo corre como nós desejaríamos. Isto vem a propósito do analisar os casos mais recentes da política nacional e especificamente da regional. Nem de propósito, ao pensar que algo de novo estaria para acontecer com a fato do aparto e da respetiva mediatização com que a corrupção denunciada e acionado pelo envio dum (batalhão) de agentes da PJ à região e que motivou a demissão dos presidentes da CMF e do GR, e a detenção do primeiro com outros dois supostos arguidos empresário conhecido da nossa praça, antes mesmo de lhes serem imputados crimes que estavam sob investigação. Afinal a justiça prende e depois investiga, ou investiga e depois prende e dita as medidas de coação; Afinal andam a brincar à justiça? A total degradação das instituições! do total descrédito a que a classe política conduziu a «democracia»! as ameaças à liberdade chegaram a um patamar de alto risco! como podemos permitir que a justiça contraria tantas evidências? Aqui aplico um pensamento dum Brasileiro jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador. Rui Barbosa: De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

Uma das principais razões que leva a que a população cada vez mais farta destas situações, desconfia da justiça, não acredita na democracia e recusa-se a ser cúmplice desta autentica manobra que mais parece uma peça de teatro, onde os cidadãos deixaram de ser o público assistente, para passarem a ser eles também os atores deste guião onde a legalização do roubo e a institucionalização da corrupção atingiu o seu clímax. Com que moralidade vamos pedir aos portugueses, e aos madeirenses e porto-santenses em particular, que acreditem numa justiça opaca, numa democracia desfasada e numa liberdade condicionada, quando a realidade passou a ser ficção, os protagonistas de todos os casos aventados afinal (vem-se a ver) que não cometeram qualquer crime. Ou a justiça está cega, ou a lei permite a impunidade ou pior ainda criaram leis para proteger criminosos, e isso já põe a democracia em cheque e a liberdade em causa. Foram situações como estas ou muito semelhantes que instituíram os regimes extremistas, ditatoriais e por vezes sanguinários. Se após 50 anos do 25 de Abril situações como estas têm ocorrido, puseram em causa a liberdade dos cidadãos, levam-nos a que: estejamos perante um hipotecar do futuro da nossa democracia em que os valores e a dignidade de quem deveria estar ao serviço dos cidadãos sinta que após 50 anos os portugueses deverão continuar a estar ao seu serviço. Acho que é hora de que com a pouca liberdade que nos resta tentemos restituí-la, repensarmos a democracia, restaurando o seu futuro, resgatando os valores da sociedade, seriedade, honestidade e missão de servir com um único objetivo: reconstruir uma nação em avançado estado de decomposição.

A. J. Ferreira