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Análise

Os meus desejos para 2024

Que se acabem com as tolerâncias de ponto excessivas e injustificadas

Parece um lugar-comum, mas nunca como agora foi imperioso desejar Paz para os povos deste mundo.

Nunca como agora foi necessário clamar por uma nova ordem global, por lideranças políticas fortes e carismáticas, que consigam pôr cobro à chacina que reina em diferentes geografias do planeta, com Gaza e Ucrânia à cabeça. Regredimos como nunca em termos civilizacionais, parecendo inacreditável que revisitemos os horrores imortalizados em documentários que retratam a hedionda década de 1940, onde a barbárie nazi espalhou o terror e a morte na Europa. A paz nunca foi, por isso, um desejo que fizesse tanto sentido ansiar. Paz essa que passa essencialmente pelas eleições nos Estados Unidos, em Novembro. Que os americanos tenham desta vez a decência de saber escolher o bem contra o mal, num grande ponto de interrogação que não pode acabar na eleição de Donald Trump. A estabilidade mundial nunca dependeu tanto de uma eleição americana como esta.

Olhemos agora para o nosso País, mergulhado num terramoto político inusitado. Apesar de não passar de uma miragem utópica, gostava que Portugal tivesse estabilidade política, que conseguisse gerar solidez social e económica. O País não pode, nas eleições de Março, de se dar ao luxo de brincar à política nem de enveredar por experimentalismos radicais e demagogos encarnados por partidos extremistas, que cavalgam a onda do descontentamento para engrandecer. Precisamos de determinação e firmeza na actuação. Para além das contas certas, do emprego quase pleno e dos números fantásticos do turismo, carecemos de coesão, de melhoria das condições de vida e de colocar as pessoas no centro das decisões. Que se eleja gente com provas dadas, capaz de mobilizar, inovar e resolver os problemas titânicos da saúde, da educação, da habitação. Que o País tenha um quadro fiscal estável e verdadeiramente equitativo, onde os trabalhadores não sejam o alvo de um assalto à mão armada sempre que olhem para o recebido do ordenado. Que se criem condições para os jovens poderem vingar e progredir. E para travar o Inverno demográfico avassalador que, apesar de um mau prenúncio para o nosso futuro, perante este quadro, comprova que a maioria não se atreve a constituir família.

Num país ideal, os dois maiores partidos do arco da governação unir-se-iam em torno de um projecto aglutinador, sustentável e duradouro. Infelizmente, nenhum mostrou essa maturidade democrática que o 50.º aniversário do 25 de Abril mereceria. Preferem tratar, à vez, do seu quintal, dos seus, do domínio da máquina da administração, perpetuando-se no poder. Olhamos em volta e vemos mediocridade a mais e sentido de Estado a menos, onde sobressai muita espuma, promoção pessoal e poucas ideias. Em quem devemos votar a 10 de Março? Esta parece ser a interrogação reinante que angustia os eleitores.

Quanto à nossa Região, gostava que se inaugurasse uma nova era no relacionamento entre a Madeira e a República, independentemente da solução governativa que emerja das próximas eleições. Precisamos de maturidade no diálogo entre governos e de seriedade na abordagem e resolução dos assuntos que nos dizem directamente respeito.

Que se chegue a bom porto na revisão da Lei das Finanças Regionais; que se encontrem mecanismos e coragem para alargar o diferencial fiscal a mais escalões do IRS e também do IVA, de forma que as famílias tenham mais poder de compra; que o combate à exclusão e à pobreza se faça de forma cabal, assente em medidas de resolução garantida e não em puros actos assistencialistas que não são mais do que um penso rápido para uma ferida que tende a alastrar-se; que não se esprema tanto a classe média e que público e privado tenham a real consciência de que só com remunerações justas e dignas teremos uma sociedade evoluída; que se acabem com as tolerâncias de ponto excessivas e injustificadas, que apenas servem para contentar o eleitorado e garantir o voto; que o governo fomente, através de campanhas dinâmicas e permanentes, a literacia em Saúde. Não é possível que o acesso ao sistema se continue a fazer pela porta do Serviço de Urgência, que fica entupido de casos não urgentes de utentes que lá recorrem com problemas de fácil resolução no médico de família, cuja cobertura caminha para os 100% da população. Ainda no campo da saúde, que se agilizem procedimentos para aliviar as listas de espera de consultas e cirurgias, envolvendo mais as entidades privadas; que se combata ferozmente a iliteracia mediática, pois só com uma população bem informada progrediremos rumo a um futuro exigente e na defesa da própria democracia.