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ONU deplora indiferença perante mortes no Mediterrâneo

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Foto: EPA/STRINGER

O alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos afirmou-se hoje "chocado com a indiferença" em torno das mais de 2.300 mortes este ano no Mediterrâneo, considerando que a "política do engano" está a entorpecer a compaixão.

Volker Türk, que discursava na sessão de abertura da 54.ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que decorre entre hoje e 13 de outubro em Genebra, Suíça, enfatizou a crise migratória durante a sua tradicional "atualização global" do estado dos diretos humanos no mundo, destacando as sucessivas tragédias que se têm verificado no Mediterrâneo, "incluindo a perda de mais de 600 vidas num único naufrágio ao largo da Grécia, em junho".

O alto comissário vincou, no entanto, que o drama não se limita do Mediterrâneo, afirmando que "é evidente que um número muito maior de migrantes e refugiados está a morrer, sem ser notado, nos mares que circundam a Europa, incluindo o Canal da Mancha, na Baía de Bengala e nas Caraíbas, onde as pessoas que procuram proteção são constantemente empurradas para trás e deportadas para situações de grave perigo".

Türk também aludiu aos problemas "ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México, onde as deportações e os processos de afastamento acelerado levantam sérias questões, ou na fronteira do Reino da Arábia Saudita", onde, apontou, o seu gabinete "está a procurar obter esclarecimentos urgentes sobre alegações de assassinatos e maus-tratos".

O responsável das Nações Unidas também se afirmou alarmado com as notícias de que, "tanto na Líbia, como na Tunísia, as autoridades têm vindo a efetuar detenções em massa e expulsões coletivas de migrantes e requerentes de asilo do sul do Saara".

"Até 31 de agosto, pelo menos 28 migrantes terão morrido de calor e sede em zonas desérticas da fronteira entre a Líbia e a Tunísia, depois de cerca de 2 mil migrantes e requerentes de asilo, incluindo mulheres e crianças, terem sido deixados ali pelas autoridades tunisinas, sem acesso, ou com acesso limitado, a alimentos, água e abrigo".

"Estamos a assistir à política do engano, de atirar areia para os olhos das pessoas. Com a ajuda das novas tecnologias, as mentiras e a desinformação são produzidas em massa para semear o caos, para confundir e, em última análise, para negar a realidade e garantir que não serão tomadas medidas que possam pôr em perigo as elites entrincheiradas", afirmou.

"Estamos também a assistir à política da indiferença, ao entorpecimento da nossa mente e da nossa alma, um esforço para desviar a nossa característica mais íntima, a compaixão, negando simplesmente a humanidade das vítimas e das pessoas vulneráveis a danos", reforçou o alto comissário.