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ONU diz que golpe de 1973 foi ruptura institucional e lembra vítimas

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Foto: Presidencia de Chile

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, descreveu o golpe de Estado de 1973 no Chile como "uma rutura institucional" e prestou homenagem às vítimas "daquele período negro", no 50.º aniversário do golpe liderado por Augusto Pinochet, hoje assinalado.

"O golpe de Estado de 1973 foi uma rutura institucional que rompeu os laços de coexistência e marcou gerações de homens e mulheres chilenos, mas também inspirou muitos a lutar pela justiça e pela liberdade", disse Guterres, que também prestou homenagem "a todas as pessoas que trabalharam incansavelmente para curar feridas e construir uma sociedade mais inclusiva e justa".

"O golpe e a morte de Allende [o então Presidente eleito Salvador Allende], sete meses antes da Revolução dos Cravos, comoveram-me profundamente, tal como as histórias de chilenos perseguidos que conheci como refugiados", acrescentou o representante da Organização das Nações Unidas (ONU), num comunicado publicado pelo seu gabinete.

Este aniversário, indicou, coincide com o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento que, no seu entender, deve "servir de guia para ouvir todas as vítimas e os seus entes queridos, reconhecer a sua dor e contribuir para o seu direito à verdade, à justiça, à reparação e à não repetição".

Neste sentido, Guterres sublinhou que o anúncio do Governo chileno relativo ao plano de busca de pessoas desaparecidas "reflete a necessidade de continuar a fortalecer a memória histórica, como forma de unir a sociedade e enfrentar tarefas pendentes e problemas comuns com um único futuro".

O Plano Nacional de Busca da Verdade e Justiça para as vítimas do desaparecimento forçado da ditadura de Pinochet (1973-1990), apresentado em 30 de agosto pelo Presidente Gabriel Boric, tem como objetivo esclarecer as circunstâncias do desaparecimento das vítimas e o seu paradeiro, garantir o acesso à informação e à participação dos familiares e da sociedade, e aplicar medidas de reparação e garantias de não repetição da prática do crime.

"A forte democracia chilena de hoje permite-nos esperar que a Humanidade, unida na sua diversidade, possa resolver qualquer desafio global", disse Guterres.

E acrescentou: "Neste aniversário, celebremos o compromisso chileno com a democracia e os direitos humanos e reafirmemos a nossa dedicação à construção de um mundo mais justo, solidário e pacífico."

Em 11 de setembro de 1973, o general Augusto Pinochet tomou o poder ao derrubar o então Presidente Salvador Allende. O golpe de Estado iria marcar o início de uma ditadura sangrenta que durou 17 anos, oficialmente responsável por 3.200 assassinatos e desaparecimentos.

Vários chefes de Estado e de Governo, incluindo o primeiro-ministro português, António Costa, estão no Chile para participar nas cerimónias do 50.º aniversário do golpe de Estado.