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Tribunal saudita condena à morte ativista por mensagens publicadas na Internet

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Um tribunal da Arábia Saudita condenou ontem um homem à morte pelas publicações que efetuou na Internet, nomeadamente na rede social X (antigo Twitter) e na plataforma YouTube, no mais recente episódio de repressão contra ativistas dissidentes naquele reino.

O julgamento de Mohammed bin Nasser al-Ghamdi seguiu-se a outros processos judiciais em que vários ativistas foram condenados recentemente a penas de prisão de várias décadas, apenas por causa de comentários feitos nas redes sociais.

As sentenças fazem parte do esforço do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman para controlar vozes discordantes no reino saudita, à medida que prosseguem projetos de construção de grande envergadura naquele território e outros acordos diplomáticos para amplificar a visibilidade global de Riade.

"A sentença de morte de Al-Ghamdi por causa das suas mensagens é horrível, mas está em linha com a crescente repressão das autoridades sauditas", disse Lina Alhathloul, membro da ALQST, uma organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos, com sede em Londres.

De acordo com documentos judiciais, as acusações feitas contra Mohammed bin Nasser al-Ghamdi incluem, entre outras, "trair a religião", "perturbar a segurança da sociedade", "conspirar contra o Governo", transgressões feitas, segundo as autoridades sauditas, através de mensagens divulgadas nas redes sociais.

As autoridades sauditas não explicaram por que razão visaram especificamente Mohammed bin Nasser al-Ghamdi, um professor reformado que vive na cidade de Meca.

No entanto, o seu irmão, Saeed bin Nasser al-Ghamdi, é um reconhecido ativista e crítico do Governo saudita que vive no Reino Unido.

"Esta falsa decisão tem como objetivo irritar-me pessoalmente, depois das tentativas falhadas dos investigadores para me fazer regressar ao país", escreveu Saeed bin Nasser al-Ghamdi na semana passada na rede social X.

A Arábia Saudita tem recorrido à detenção de familiares como forma de pressionar ativistas que estão a viver no estrangeiro a regressar ao reino.

"A repressão na Arábia Saudita atingiu uma nova fase aterradora, quando um tribunal pode condenar a uma pena de morte por causa de mensagens pacíficas", disse Joey Shea, investigador da organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch.

A Arábia Saudita é um dos países com maior número de condenações à pena de morte, apenas atrás da China e do Irão, de acordo com a Amnistia Internacional.

O número de pessoas executadas pela Arábia Saudita no ano passado (196) foi o mais elevado registado pela Amnistia Internacional em 30 anos.

Num só dia, em março passado, a justiça da Arábia Saudita executou 81 pessoas, classificada como a maior execução em massa realizada (e conhecida publicamente) da história contemporânea do reino.