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Migração está a fazer aumentar índices de envelhecimento na Venezuela

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A migração de venezuelanos que abandonam a Venezuela escapando da crise política, económica e social está a fazer aumentar o índice de envelhecimento num país onde os jovens eram maioria, e os preconceitos dificultam a precária vida dos anciãos.

O alerta foi dado em Caracas por Adriana Pérez Piegard, porta-voz da Ágora, uma organização não-governamental (ONG) que trabalha para mudar conceitos e consciencializar a população de que as pessoas idosas são necessárias para a sociedade.

"Estamos a promover iniciativas relacionadas com a terceira idade, com a mudança da economia prateada e com a nova longevidade. Este é um conceito que está a ganhar força na Venezuela, por ser um país que está a envelhecer rapidamente como resultado da migração", explicou à agência Lusa.

Segundo Adriana Pérez Piegard, a Ágora identificou que "quando as pessoas migram, muitos anciãos ficam abandonados", o que "afeta o bem-estar destas pessoas de uma forma diferenciada".

"Somos um país envelhecido, de facto, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento prevê-se que na América Latina, dentro de 30 anos, os índices de envelhecimento aumentem porque muitos jovens estão a migrar e o continente está a ficar vazio", explicou.

Adriana Pérez Piegard precisou que muitos venezuelanos preferem emigrar para países da Europa ou para o Norte (Estados Unidas da América), "para onde possam conseguir melhores condições e qualidade de vida".

"Os anciãos, as pessoas idosas, ficam na Venezuela, dependendo das remessas que os seus filhos ou familiares possam enviar. Muitos não têm a possibilidade de contar com 'divisas' [moeda estrangeira], com apoio do estrangeiro e ficam abandonados e vemos que evidentemente os níveis de pobreza dos anciãos está a aumentar", apontou.

Por isso, a ONG está a trabalhar "o conceito da economia prateada, a tentar consciencializar que as pessoas idosas são necessárias para a sociedade". Também "a ideia do trabalho entre gerações e que os anciãos podem fazer empreendimentos que num contexto como o venezuelano são extremamente necessários".

"A Venezuela é um país em que as opiniões dos mais jovens não são ouvidas e as opiniões dos idosos tão pouco são ouvidas. Portanto, estamos numa espécie de limbo comunicacional. Mas é possível mudar essa narrativa mesmo num contexto em que no futuro haverá mais idosos do que pessoas a nascer ou que a taxa de natalidade seja inferior ao número de pessoas que atingem a velhice", frisou.

Por outro lado, avançou que "a economia prateada se centra no reforço das capacidades dos idosos que querem empreender, começar um negócio, ou têm uma ideia de negócio" dentro do conceito em que "são necessários para um câmbio social e para a economia mundial".

Também na Venezuela, "os jovens eram maioria", mas "a realidade é que as pessoas não querem ter filhos, ou querem ter menos filhos do que há alguns anos", por isso, "o índice de natalidade está a diminuir e o de idosos está a aumentar".

No seu entender, o índice de anciãos "continuará a aumentar porque se esperam mais vagas migratórias e o número de idosos na população continuará a aumentar".

Sobre os principais problemas que afetam os mais velhos, a Ágora identificou "o acesso a recursos", num país em "as pensões não são suficientes para que os idosos possam viver e cobrir as suas necessidades".

Também "a discriminação no acesso a oportunidades de emprego: As pessoas da terceira idade têm menos oportunidades de participar em espaços laborais".

"Vemos, de facto, que os requisitos [para trabalhar] são muitas vezes de até aos 30 ou 40 anos, porque pensam que depois dos 40 anos" já não servem "socialmente, quando esta é uma narrativa totalmente errada", frisou.

Por outro lado, além da solidão, e embora fiquem desprotegidos, alguns idosos ficam a desempenhar o papel de cuidadores, graças ao que conseguem aceder a moeda estrangeira.

"Os filhos emigram e deixam as crianças com os avós e ambos acabam por ficar vulneráveis dentro da sociedade, estando sozinhas neste contexto adverso em que vivem", sublinhou.

"Independentemente de serem avós [originários] de Portugal, da Venezuela, do Haiti, ou dos EUA, todos os que estamos na Venezuela, estamos todos a viver no mesmo contexto", reforçou.

Adriana Pérez Piegard salientou que a Ágora está a trabalhar há mais de 17 anos para fortalecer a cultura de agentes de mudança nos jovens e empreendedores sociais e de negócios na Venezuela.