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Lula atribui subida da violência nas escolas à internet e à "indústria do tiro"

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Foto EPA

O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, atribuiu hoje os últimos ataques a escolas no país ao ódio que se espalha "sem regras" na Internet e às políticas de armamento, que descreveu como "indústria do tiro".

Lula da Silva convocou autoridades de todos os níveis para analisar uma onda de ataques e ameaças contra escolas que nas últimas semanas espalhou o medo no país e que relacionou à impunidade na internet e às políticas do seu antecessor, Jair Bolsonaro, que facilitou o acesso de civis às armas.

O Presidente brasileiro reconheceu que "a violência sempre existiu" e que "todos os dias morrem inocentes" nas favelas, mas disse que isso tem sido agravado pelas "plataformas digitais, que ganham dinheiro a divulgar a violência e estão cada vez mais ricas", promovendo na internet o que é proibido na vida real.

Segundo Lula da Silva, esta situação não será resolvida "com dinheiro, mas com atitudes" e decisões políticas que impeçam o "discurso de ódio" na internet e substituam as armas por uma "cultura de paz", com a participação das próprias famílias no processo educacional.

"Não vamos transformar as escolas em presídios de segurança máxima", disse, em resposta a propostas de alguns setores que visam instalar detetores de armas nas escolas ou cercá-las com muros.

Participaram no encontro membros do Governo, do Congresso e do Judiciário, além de governadores e prefeitos que, por unanimidade, se comprometeram a acabar com a violência contra crianças e adolescentes, principalmente "no lugar onde eles deveriam estar, que é a escola", como apontou a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, destacou que os ataques violentos em centros educacionais tem crescido e já somam 22 desde 2002. Sete deles ocorreram desde junho passado e os últimos quatro foram este ano.

O mais grave ocorreu na cidade de Blumenau, no sul do país, onde um jovem de 25 anos entrou numa creche armado com um machado e matou quatro crianças e feriu outras quatro, ataque em que a Polícia acredita que o agressor agiu sozinho.

Dino apresentou um balanço das ações realizadas pelo Governo nas últimas semanas, em que as ameaças e ataques se intensificaram.

Segundo Dino, foram detidas 225 pessoas, intimados 694 adolescentes a depor perante a Polícia e realizadas 155 buscas, no âmbito de 1.224 processos investigados.

O ministro disse que 756 perfis nas redes sociais também foram suspensos e que foram recebidas 7.433 denúncias de ameaças.

Dino esclareceu, porém, que a média diária caiu de 1.700 há três semanas para cerca de 170, embora tenha destacado que a maioria não foi verificada.

Segundo o ministro da Justiça, isto mostra que existe uma "verdadeira epidemia de ódio" que "assusta as famílias" e que atribuiu a "organizações criminosas estruturadas nas redes sociais".

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e juiz do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, também falou no evento e apoiou as medidas que o Governo brasileiro já adotou para coibir a divulgação de conteúdos que incentivam a violência contra crianças nas redes sociais, mas disse que é preciso ser mais rigoroso.

Moraes relacionou as ameaças aos centros educacionais com grupos de extrema-direita dedicados à desinformação diante das eleições do ano passado, que também promoveram o ataque às instituições dos três poderes, em Brasília, em 08 de janeiro.

Segundo o juiz, a Internet "não é e não pode ser uma terra sem lei" e "é preciso determinar de uma vez por todas que o que não pode ser feito na vida real também não pode ser feito no mundo virtual".

Moraes também propôs adotar definitivamente, para "discursos nazis, homofóbicos, racistas" e todos aqueles que promovem a violência, que as redes sociais sejam obrigadas a retirar esse conteúdo imediatamente, como aconteceu no processo eleitoral.