Artigos

Respeito e Autoridade

Em que tipo de país é que uma situação em que menores atacam a Polícia é encarada com normalidade?

Existirá ainda respeito em Portugal? Ao olhar para a nossa realidade social, muito semelhante àquela que se assiste em muitos países ocidentais que se acreditam mais “civilizados” que o resto do mundo, percebemos que o desrespeito foi-se integrando aos poucos e poucos na nossa vida em comunidade ao ponto de se ter tornado totalmente “legítimo” no dia-a-dia. Não falo apenas do respeito entre pessoas, que merece o seu próprio artigo, mas também de um tipo de respeito cuja falta é bem mais grave: o respeito para com figuras de autoridade, sejam autoridades nos sentidos legal e familiar sejam no sentido científico.

Estes últimos dois anos, quiçá devido à acumulação de muitas frustrações durante o período pandémico e de lockdown, têm sido exemplares quanto a esta “nova” cultura de desrespeito que se instalou por terras lusas.

Nos casos mais extremos, em que as faltas de respeito e de reconhecimento de autoridade se cruzam, é evidente a frequência com que as forças policiais são postas num patamar de ridicularização total quando, ao efetuar uma detenção, são atacadas pelos alvos da detenção ou, pior, por membros da comunidade em que se inserem os criminosos (como foi o caso do Bairro dos Navegadores em 2021). Bem recentemente verificou-se outra situação em Vila Nova de Gaia onde, a 10 de Abril, jovens que estariam a provocar desacatos noturnos resolveram confrontar a polícia que tinha sido chamada ao lugar, tendo isto resultado na detenção de um menor de 17 anos. Em que tipo de país é que uma situação em que menores atacam a Polícia é encarada com normalidade?

De maneira semelhante, temos o caso de Fábio Guerra, o agente da PSP que foi brutalmente atacado no ano passado ao tentar impedir desacatos à porta de uma discoteca em Lisboa, não tendo sobrevivido aos ferimentos brutais. Neste caso, Fábio Guerra e os seus amigos, também eles agentes, não estavam de serviço, contudo, como um destes amigos testemunhou, identificaram-se como polícias (com o objetivo de neutralizar a rixa) tendo tido como resposta de um dos agressores que “não tinha nada a ver com isso”, passando também a ser alvo de ataque. Assim, tendo Guerra e os seus colegas pensado que viviam numa sociedade em que o Estado de Direito é respeitado e em que a “autoridade” ainda vale de alguma coisa, perdeu-se a vida de um jovem agente que mostrou estar disposto a servir gente que não o merecia.

Em Portugal, tal como em muitos outros países que gostam de enaltecer o seu suposto desenvolvimento, o desrespeito foi normalizado. Através do desenvolvimento exarcebado de ideologias que levam os princípios de igualdade ao extremo, na medida em que palavras como experiência, autoridade e hierarquia perdem todo o sentido pois “somos todos iguais”, a nossa sociedade já começa a dar sinais de desorganização. A “revolta”, mesmo que ilegítima, é fomentada e quando a autoridade responde à medida ainda há forças que surgem para a criticar. Nota-se isto em relação quer a pais que atacam o professor quando o aluno foi disciplinado adequadamente quer a grupos políticos que atacam forças de autoridade quando usam força proporcional para deter criminosos que constituem perigo tanto para agentes como para civis.

Todos já sabemos que o mundo em que vivemos não é perfeito e não é raro ouvir falar de figuras que abusam do seu papel de autoridade de forma nitidamente perversa. Também não é incomum ouvir falar de pessoas que, apesar de não se enquadrarem nos moldes ditados pelas figuras de autoridade, vêm remodelar a forma de pensar de toda uma sociedade pela positiva, sendo inúmeros os casos ao longo da história de “não-conformistas” que mudaram o mundo. E porque é que, enquanto que uns são criticados, outros são colocados em pedestais como as grandes mentes da Humanidade? Por uma simples razão. Porque enquanto que os primeiros pretendem desrespeitar a autoridade e a sociedade em geral, os segundos questionam-na e atacam-na moralmente, não fisicamente. Muitos perdem de vista este facto e procuram legitimar a revolta em nome de ela mesma, sendo por isso que Portugal, no estado atual em que está, parece não ter qualquer réstia de respeito. E ainda aqui vamos.