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Um tiro pela culatra (2)

Certa vez fiquei sem um retrovisor ao tentar passar por uma carrinha estacionada em cima do passeio com metade de fora. Na rua Conde Canavial por trás do La Vie. Do outro lado estavam motas estacionadas. Não cabia.

No dizer da companhia de seguros quem está parado nunca tem culpa. Se a viatura não consegue passar, chama-se a polícia. As buzinadelas dos que estão atrás, não contam. O incómodo no trânsito em hora de ponta, não importa. A demora da chegada da autoridade, tanto faz. Ao 3ª apito arrisquei. Não devia. A culpa era minha. Nada a fazer, assenti, discordando.

Ora, na Calheta, no episódio que vos contei no domingo passado, já foi diferente, era eu que estava parado, quando o outro veículo veio bater à minha faixa e chocou de frente contra mim. O sujeito activo do acidente conduzia em sentido ascendente, a alta velocidade, como o rasto de 12 metros dos pneus no chão demonstrava com evidência.

Ao contrário do caso do retrovisor, em que afirmavam que quem estava parado nunca tinha culpa, neste os peritos já acharam que a responsabilidade deveria ser repartida. Argumentaram que apesar da estrada ser para dois carros, naquela curva em particular, só cabia um. Ora, por isso é que parei antes da curva, onde já era possível passar dois.

As seguradoras nem quiseram saber de qualquer argumentação, basearam-se no relatório policial que, como se viu, agradou ao transgressor e repartiram convenientemente os custos do acidente.

Tive de pagar a minha parte sem que me imputassem qualquer contravenção. É o Código, dizem eles. Ou a interpretação que fazem dele, digo eu. Que está a cobrir injustiças beneficiando os infractores.