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Nigéria à espera de resultados em eleições marcadas por acusações de fraude

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A Nigéria continua hoje a publicar os resultados das eleições presidenciais e legislativas, após uma votação muito contestada no país mais populoso de África, onde os atrasos na contagem suscitaram acusações de tentativa de fraude.

Perto de 94 milhões de eleitores foram chamados às urnas no sábado para escolher, de entre 18 candidatos, aquele que terá a difícil tarefa de, nos próximos quatro anos, lutar contra uma economia em desaceleração, a violência entre grupos armados e o empobrecimento generalizado da população.

A publicação dos resultados, estado a estado, promete ser demorada. Depois de publicar, no domingo, os resultados de Ekiti, um pequeno estado no sudoeste do país, a comissão eleitoral nigeriana adiou o resto para hoje. A Nigéria tem 36 estados e o território da capital federal.

No domingo, Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular (PDP, maior partido da oposição) apelou à comissão eleitoral para mostrar neutralidade e divulgar os resultados o mais cedo possível, acusando alguns governadores de tentarem minar o processo eleitoral.

"Será um mau serviço para os nigerianos e uma negação da democracia se alguém subverter a vontade do povo expressa livremente nas urnas", disse em comunicado Abubakar, que se candidata à presidência pela sexta vez.

A comissão já tinha prolongado para domingo o período de votação nas eleições em dois estados do país - Cross River e Bayelsa -, devido à ocorrência no sábado de vários incidentes, segundo noticiou a agência de notícias EFE.

O Partido Trabalhista da Nigéria, um dos principais grupos da oposição, anunciou no sábado que vai recorrer para os tribunais do resultado das eleições, alegando "numerosas irregularidades".

A secretária nacional do partido, Alhaji Umar Faruk Ibrahim, citada pela agência de notícias Europa Press, disse que o partido tinha um forte apoio na maior parte da região norte do país, mas que os eleitores foram impedidos de participar, "violentamente perseguidos" e expulsos das mesas de voto.

Noutros casos, os boletins de voto ou urnas foram destruídos, acrescentou, segundo o diário nigeriano "Vanguard", .

No sábado, dia marcado para as eleições, os responsáveis da comissão eleitoral manifestaram oposição a qualquer tipo de adiamento nas votações, mesmo com a existência de problemas técnicos e com a ameaça de violência.

Segundo adiantou o jornal Premium Times, a comissão eleitoral chegou mesmo a ameaçar cancelar os resultados eleitorais em partes do estado de Kogi (centro do país), citando o comissário local, na sequência de vários incidentes violentos na região este e oeste, com o roubo de boletins de voto.

Também observadores do Centro para o Desenvolvimento e para a Inovação Jornalística da Nigéria como outros grupos da sociedade civil denunciaram "práticas constantes de má conduta por parte dos secretários da comissão eleitoral e das assembleias de voto", acusando-os de chegarem tarde aos centros de votação.

Já a organização Human Rights Watch alertou para a existência de um "clima de insegurança generalizada", que afetou o ato eleitoral.

O grupo de monitorização Yiaga Africa também disse estar "profundamente preocupado" com os atrasos verificados no ato eleitoral e a empresa de análise SBM Intelligence registou no sábado "atos de intimidação e violência" em pelo menos 13 estados.

Os nigerianos foram chamados às urnas para escolher o sucessor de Muhammadu Buhari, de 80 anos, que está no poder desde 2015 e se encontra impedido constitucionalmente de concorrer a um terceiro mandato.

Concorrem ao cargo de chefe de Estado 18 candidatos e, pelo menos, 4.223 pessoas aos 469 lugares na Assembleia Nacional, 109 senadores e 360 deputados à Câmara dos Representantes.

Pela primeira vez desde 1999, as eleições presidenciais podem vir a ser decididas em duas voltas, devido à popularidade crescente de um candidato alternativo aos dois partidos que historicamente disputam o cargo.

Bola Ahmed Tinubu, do Congresso de Todos os Progressivos (APC, na sigla em inglês, no poder), e Atiku Abubakar são os mais fortes candidatos de um sistema que se tem mantido estável desde o fim da ditadura militar, em 1999, mas que, desta vez, é desafiado por Peter Obi, do Partido Trabalhista, líder nas principais sondagens pré-eleitorais.

A Nigéria é o país mais populoso de África, com 222.182 milhões de pessoas, e, dos quase 94 milhões de eleitores registados, quase 40% têm menos de 35 anos.