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Liberdade e responsabilidade

Acho que é a primeira vez que me cabe em sorte escrever no último dia do ano, um convite a uma reflexão mais profunda que as minhas parcas capacidades, aliadas à miséria de caracteres que me dão para poder explanar um raciocínio até ao fim, dificultam sobremaneira. Ser livre não é tarefa fácil para ninguém… Li isto recentemente e a frase marcou-me, até pela quantidade de vezes que me gabam a coragem de escrever o que penso e me apetece. Será mesmo? Para o ano, celebraremos os 50 anos do 25 de Abril, a data que supostamente nos devolveu essa liberdade. E todo este tempo depois, ainda temos medo? Ainda existe delito de opinião? A assombração do lápis azul ainda paira sobre nós? São muitos aindas, todos propositados, convém salientar.

A nossa democracia já não é jovem. Na sua meia-idade, continua imensamente envolta em fragilidades e, sobretudo, assente numa cultura de desresponsabilização. Ao Estado tudo cabe prover; ao Estado tudo cabe decidir; ao Estado tudo cabe regular. Por isto continuamos a ouvir as histórias dos avençados que são convidados, com veemência, a participar em arraiais de partidos. Por isto aceitamos, silenciosos, que uns privilegiados tirem 4 dias (!!) de tolerância de ponto enquanto outros se esfalfam a trabalhar. Por isto, temos prazos para pagar mas nunca temos prazos para receber. Um “trade off” difícil de explicar, ou talvez não…  Num país onde 70% da população ganha menos de 1.000€ por mês, a tal frase que citei, escrita por um chinês de nome Lao Li nos idos anos 80 no seu próprio país, deu meia-volta ao mundo e aterrou que nem ginjas no nosso Portugal do séc. XXI. Ser livre, num cenário destes, não pode ser tarefa fácil, de facto. Porque se criaram estas dependências e, sobretudo, porque é proibido pensar diferente. Quem o faz é “bullyizado”! E porque quase ninguém tem liberdade para ser livre, seja porque ganha pouco (ou desconta muito), seja porque trabalha para o Estado, seja porque faz negócios com ele. Não sendo fácil, devemos resignar-nos? Se, como penso, a liberdade vem com responsabilidade, não temos como! Comecemos por compreender a importância da nossa participação cívica enquanto eleitores; tenhamos coragem de fazer perceber aos senhores governantes que são eles que estão ao nosso serviço e não o contrário; expliquemos, as vezes que forem necessárias, que o dinheiro do Estado é nosso e não do Governo. Deixemos de mandar essas responsabilidades para cima de outros! Tenhamos, todos, a coragem de dizer o que nos vai na alma, com elevação e educação, respeito pela divergência, mas sem receio de repercussões. É esta a minha mensagem para 2024. Ser livre não é tarefa fácil para ninguém. Façamos, no entanto, um esforço para viver plenamente, com responsabilidade e sem resignações, a liberdade que devemos querer poder ter. Bom Ano!