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Monumental ilusão

A riqueza de um país não faz sentido se o povo continua a viver na miséria

Não foi este o tema que alvitrei para este artigo mas o subconsciente empurrou-me a discorrer sobre as gritantes injustiças sociais.

Mais um natal passou, mais um ano de guerras estúpidas e sem sentido, mais um ano de promessas políticas vãs que na prática nada acrescentam. Enfim, mais um ano de mais do mesmo onde o povo que trabalha, que paga impostos que sustenta os políticos, que sustenta a corrupção e que sustenta a democracia vive com as migalhas que cai da mesa dos que nos exploram. Numa sociedade que deveria ter direitos iguais os mais necessitados apenas dão graças a Deus por terem saúde mesmo que lhes falte o pão na mesa.

As constatações são tantas que não é difícil escolher por onde começar. Significativo é o salário mínimo mensal que se torna uma monumental ilusão uma vez que aumentam os ordenados mas, em paralelo, aumenta o custo de vida pelo que esse aumento é logo absorvido pela subida constante dos bens de consumo e os aumentos continuam a não chegar para cobrir as despesas.

Tomemos como exemplo o ano 2000 quando o salário mínimo mensal cifrava-se nos 318.00 €.

Esse mesmo salário foi aumentando progressivamente pelo que no ano 2023 já está em 760.00€, mais do dobro, mas o povo continua a viver com as mesmas, ou mais, dificuldades porque entretanto o custo de vida continua a aumentar estupidamente. Daqui se conclui que o aumento do ordenado é um “fait divers” para quem trabalha mas, pelo contrário, enriquece os cofres do Estado que cobra à percentagem para depois ser esbanjado por governantes incompetentes que gastam à “fartazana” um dinheiro que não lhes custou a ganhar. Seja para o Estado, ou para as empresas públicas ou privadas o lucro está sempre acima de tudo doa a quem doer. É na saúde, na habitação na alimentação e outros bens de consumo. Depois vem os nossos governantes, com o choradinho, reconhecer que a pobreza é uma constatação e que o rendimento do trabalho não chega para cobrir as despesas.

Que grande hipocrisia! Isso todos nós sabemos! Também sabemos que por via disso a classe média acabou para dar lugar à classe dos muito pobres e outra dos muito ricos.

O sistema político /financeiro já não tem nada de novo tornou-se conjuntural onde tudo gira à volta de uma folha de exel que controla o Mundo e os governos eleitos são apenas um instrumento para legislar leis inócuas para acreditarmos que vivemos em democracia. Mas uma democracia que vive da caridadezinha do Governo, com subsídios para tudo, é desvirtuar a essência da mesma no que respeita à igualdade de direitos.

Não estou contra os subsídios e ainda bem que eles existem, de contrário já muita gente teria morrido de fome, mas democracia é viver com dignidade, não é viver de esmolas, muito embora sejamos nós a paga-las através de pesados impostos, ou seja, dão-nos com uma mão e tiram-nos com a outra.

A economia está montada de forma a obrigar os governos a se endividarem e pagarem juros astronómicos onde Portugal, um pequeno país de 10 milhões de habitantes, vai gastar, em 2024, mais de 7 mil milhões em juros da dívida. A economia entrou numa espiral diabólica nas mãos dos grandes magnatas onde o dinheiro flui através de paraísos fiscais sem regras sobrecarregando-nos com altos impostos porque as dívidas foram criadas para o povo pagar.

Do nada, e sem razão aparente, sobe os juros da euribor, que “afoga” quem tem crédito à habitação, sobem as rendas, sobem os combustíveis, sobem os bens de consumo. A treta da inflação é apenas um instrumento ao serviço da grande capital porque lhes dá jeito e a nós obrigam-nos a viver da mendicidade. Repito-me pela enésima vez, Isto só tem solução se os governos, em conjunto, alterarem as regras do capitalismo selvagem porque não pode valer tudo em nome de um economia livre e sem regras. Sou apologista do progresso, do sucesso das empresas e da riqueza do país mas que a população usufrua também dessa distribuição de riqueza. A riqueza de um país não faz sentido se o povo continua a viver na miséria.

Tudo na vida tem um preço e nós pagamos caro para viver em democracia. A Revolução dos cravos despertou em nos a esperança, 50 depois apenas nos resta a frustração.

Ilustro este artigo com a advertência do TdC à Madeira onde a Região apresenta o PIB mais elevado de sempre, 6 mil milhões de euros, mas em contrapartida a divida pública é de 5 mil milhões, mais 2,2 milhões de encargos da dívida, ou seja, os governantes esbanjam sempre mais do que ganham.

Embora já ninguém acredite que o próximo ano será melhor, faço votos que 2024 traga políticos íntegros, honestos e capazes de nos governar.