Maria Eulália, a minha mãe

A minha querida mãe - que Deus deverá ter, por via da vida dedicada aos outros que com ela interagiam e à Igreja que, na sua simplicidade e por essa forma, servia -, muito porfiou para que eu vivesse de acordo com os ditames da tal Santa Madre Igreja, católica e apostólica, que ela não questionava e fazia tudo para concretizar. Nesse desiderato, porém, não teve em conta que, por outro lado, fruto do seu espírito que também era livre, sempre estimulou a curiosidade dos seus filhos e a consequente necessidade de questionarem tudo e mais qualquer coisa, não aceitando ditames ou regras. A minha mãe era tudo o contrário de um fundamentalista: tentava influenciar pelo comportamento e nunca pela imposição! Em suma, deixou, a mim e aos meus irmãos, a mensagem fundamental de fazermo-nos homens e mulheres, com o Mundo e a Vida que a cada um coubesse!

Foram muitas as pessoas com quem interagiu ao longo da sua vida que também foi pública: era a “menina da Forma Grande” e, durante muitos anos, foi referência na baixa comercial do Funchal. Recebo, ainda hoje dos mais antigos que com ela conviveram, a confirmação da elevação com que tratava todos e, sobretudo, da empatia que facilmente desenvolvia ao ponto de ser um ponto de apoio para resolver as pequenas questões quotidianas que se colocavam a muitos do que passavam pelo Largo do Phelps. Dizem-me aqueles a quem ajudou: “a sua mãe era uma Senhora”. E eu só posso ficar enlevado! Era essa a sua forma, muito discreta, mas bastante efetiva, de ser solidária, sem espalhafato ou mãos estendidas. Simplesmente estando ali e apoiando quem precisasse.

Passados todos os muitos anos desde que me deixou, retenho da minha mãe, entre muitas outras coisas, a ideia de que viver a fé é, sobretudo, uma atitude, muito íntima e pessoal, e não carece de grandes exteriorizações. A vida de cada um revelará aquilo em que efetivamente, acreditou e aquilo que esteve disponível para dar aos outros, sendo essa a mensagem fundamental do Cristianismo: o serviço aos nossos Irmãos, independentemente da sua origem ou proveniência. Amarmo-nos Uns aos Outros!

Não me reconheço, apesar da minha querida mãe e de toda a formação da minha juventude, como católico. Repetindo Voltaire, no que toca ao meu ao relacionamento com Deus: “cumprimentamo-nos, mas não conversamos!” Reconheço, porém, que retive e tento praticar alguns ensinamentos básicos do cristianismo, como sejam os de respeitar e ajudar o próximo, sempre que ele precise e sem exibir, para os demais, o apoio que possa ter prestado e, muito menos, cobrar por essa ajuda. Retenho, também, o respeito, que deve ser incondicional, pelas vivências e opiniões de cada um e a ideia de que qualquer pessoa tem, dentro de si mesma, a capacidade de tudo reparar e fazer melhor. Com a ajuda de Deus ou qualquer outra entidade que tiver mais à mão!

Até um dia destes, minha mãe!

João Cristiano Barreto Loja