Se Jesus voltasse a nascer!

Se Jesus voltasse hoje, iria se surpreender ao ver quantas pessoas deturparam as suas palavras e quantos são incapazes de compreender o que ele quis dizer! A palavra sagrada precisa ser decifrada com calma e atenção, não se deve ler simplesmente e levar cada citação ao pé da letra... “Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem.” (Mt 13:10-13)

Quanta ingenuidade disfarçada de inocência se dispersa por este nosso mundo. O que ontem foi verdade, hoje tornou-se dúvida. O que hoje foi mentira, converteu-se na realidade nua e crua duma sociedade que enterrou os valores humanos e substitui-os pelos valores do custo, do preço e da avaliação à volta de interesses que nem sempre vão ao encontro da realidade. Tomara que voltasse a ser criança de novo, que aos 7 anos acreditava na vinda do menino Jesus colocar singelas prendas no sapatinho numa lareira com cheiro a cinza, duma cozinha primorosamente limpa e com o aroma das tangerinas, do ananás e dos junquilho, da lenha que confeccionou a canja do Natal, misturado com a cera dum soalho bem polido. Mas quiseram substituir o menino por um senhor gordo, velho de barbas brancas que traz ilusões sonhos e presentes vindos do outro lado do mundo, promovidos pela publicidade dos meios de comunicação que transformam ilusões em realidade, para depois colocá-los debaixo de uma árvore de plástico. Porque a simplicidade daquele menino foi ultrapassada, já aos 17 anos nada era igual, os sonhos eram outros, mas o Natal das tradições teimava em ser o mesmo. A carne de vinho e alhos, o pão molhado nesse molho deliciosos, o ovo frito com o respetivo bife a acompanhar as semilhas novas cozidas e salteadas faziam as delícias de um almoço inigualável. E aos 27 anos já se via o mundo de outra forma, mas com as tradições continuavam bem vivas, o despertar com um cálice de anis caseiro e uma talhada de bolo de mel que o seu cheiro não escondia as suas origens, isso já pelas 9 e meia da manhã, pois a noite na missa do galo tinha sido longa. Quando aos 37 anos teimosamente mantínhamos a tradição, já com os filhos à volta da mesa e uma longa família a acompanhar. Com os 47 alguns aguardava ansiosamente o regresso dos que tiveram de sair de casa para poderem crescer em inteligência e sabedoria. E não é que aos 57 anos já com uma numerosa família onde começava-se a sentir a ausências daqueles que pela lei da vida tinha marchado. Finalmente ao 67 a correria dos netos era grande para ver o que é que o pai Natal tinha posto no sapatinho, pois a tradição mantinha-se e o menino que outrora nasceu em Belém, afinal seria por não ter lugar nas urgências de algum dos hospitais deste país massacrado pela injustiça. Outro Natal se comemora. Esperemos que os futuros Natais que ainda nos restam possamos restaurar a paz, restituía a alegria e a fé, e resgate os valores duma sociedade que parece andar à deriva, onde não teremos medo de mudar as atitudes mantendo as tradições, pois essas fazem parte das nossas vidas. Um Santo e Feliz Natal que chega a todos os corações dos homens de boa vontade.

A. J. Ferreira