O número de lojas de venda de produtos com cannabis tem vindo a aumentar na Região. Neste momento, existem várias lojas no Funchal e uma na Ponta do Sol, mas a elevada procura por estes artigos motivou o empresário Fábio Faria a fazer um maior investimento, não só na Madeira mas também no Porto Santo.

Mas será que a comercialização de produtos com cannabis é consensual?

A abertura da loja Cannabis Bio Store no Porto Santo, que está prevista para o início do ano de 2024, está a dividir opiniões.

Enquanto alguns porto-santenses vêem neste estabelecimento uma oportunidade para adquirir artigos sem terem de pagar transporte e perder tempo em viagens, outros mostram-se apreensivos quanto a esta nova realidade na ilha dourada.

“Pode ser bom e é sempre uma forma de dinamizar o Porto Santo, mas esperemos que seja uma moda boa”, disse um residente.

Outro porto-santense defende que “é uma boa aposta porque ninguém é analfabeto e, se está tudo legal, os porto-santenses têm os mesmos direitos que os madeirenses, pois não são um povo retrógrado”.

A verdade é que, segundo Fábio Faria, muitos porto-santenses deslocam-se propositadamente à Madeira para comprar artigos e chegam a levar mais de 100 euros em produtos. Foi este o motivo que o levou a abrir mais um espaço na ilha do Porto Santo com o objectivo de chegar a todos os clientes.

O empresário explicou que a Cannabis Bio Store nasceu há quatro anos na Madeira e tem ganho cada vez mais dimensão, contanto agora com três lojas, uma no Centro Comercial Anadia, uma no Largo do Chafariz e outra na Ponta do Sol. Fábio Faria refere que irá surgir agora a loja do Porto Santo, a pedido de muitos porto-santeses, e que deverá abrir mais dois espaços na Região no próximo ano.

“No início as pessoas idosas criticavam-nos muito, agora já representam cerca de 25 por cento dos clientes, essencialmente por causa dos óleos e dos chás. Aliás, muitos dos nossos clientes já chegam com receitas médicas, o que há quatro anos era impensável”, revelou o empresário, garantindo que “a cannabis utilizada não tem qualquer efeito psicoactivo”. “É uma cannabis relaxante, que causa bem-estar e euforia, mas não causa nenhum efeito psicótico porque o produto é biológico e 100% natural. O importante é cumprir todas as exigências dos laboratórios e ter tudo legal”, defende.

Contou ainda que a ideia de abrir a primeira loja de cannabis surgiu após ter feito uma pesquisa para encontrar uma solução para a doença do filho, que tinha ataques epiléticos, e de ter visto que a cannábis poderia lhe dar mais qualidade de vida. “Tentei adquirir os produtos, mas havia sempre problemas até chegar à Madeira. Então achei por bem torná-lo um produto legal. Trabalhei para isso e consegui o meu objectivo. A verdade é que o meu filho está bem melhor”, acrescentou o empresário.

“A cannabis da loja nada tem a ver com a que se vende na rua”

Já Nelson Carvalho, director da Unidade de Intervenção de Comportamentos Aditivos e Dependências da Madeira (UCAD), continua a defender que “as pessoas devem ir ao médico quando têm problemas de saúde e não procurar produtos sobre os quais não existem evidências científicas”. Contudo, refere que “trata-se de uma loja legal e que contra isso não se pode fazer nada”.

O director da UCAD deixa assim um alerta à população, essencialmente aos mais jovens: “a cannabis que se vende nestas lojas nada tem a ver com a cannabis ilícita que se vende na rua e que é muito mais perigosa para a saúde”. “Muitas vezes os jovens ao acharem que aqueles produtos não fazem mal também acham que a cannabis que se vende na rua não faz mal nenhum e estas leis são mais um argumento para que os jovens possam consumir”, disse, recordando que, sempre que se justifica, são realizadas inspecções em articulação com a ARAE e a PSP para que tudo esteja conforme a lei, de forma a proteger os cidadãos.

Por fim, Nelson Carvalho recordou a análise conjunta do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês) e da agência das polícias europeias (Europol), que dá conta de que o mercado de cannábis é o maior de droga ilícita na Europa e tem um valor monetário de tráfico estimado "em pelo menos 11,4 mil milhões por ano", pedindo atenção à população na forma como utilizam estes produtos.

Citou ainda este relatório, que adianta que "os produtos derivados da cannábis estão cada vez mais diversificados e, embora a erva e a resina do haxixe ainda dominem o mercado, grassa uma gama de canabinoides naturais, semissintéticos e sintéticos, disponíveis em muitas formas, que incluem óleo, uma variedade de outros extratos de alta potência conhecidos como ‘concentrados’, produtos ‘vaping (fumo electrónico a vapor) e comestíveis".

O DIÁRIO contactou a Câmara Municipal do Porto Santo que referiu ainda não ter conhecimento da abertura desta loja.