Perdidos e achados

A crónica “Declínios e entendimentos” mostra-nos mais um que aderiu por “engano” ao PSD e demorou 14 anos a perceber o equívoco. Agora na esteira de André Ventura (AV) e tal como ele procura tirar conclusões enviesadas dos resultados eleitorais. Fazer de madeirenses e porto-santenses tolos é afirmar tout court que de 2019 a 2023 “PSD, PS e CDS perderam em conjunto quase trinta mil eleitores” escamoteando que desses eleitores “perdidos” 22.363 eram do PS, tendo retornado 1.100 ao PCP e 547 ao BE, tendo sido “achados” 7.103 pelo JPP, 11.409 pelo Chega, 2.793 pelo IL e 951 pelo PAN, ficando os restantes nos partidos que não conseguiram assento parlamentar e nos votos nulos. O cronista acusa os partidos “tradicionais” de “seguidismo” e “luta pelo poder”. Então quando AV fez aprovar uma proposta de estatutos, uma vez mais ilegalizada pelo TC, para conseguir de forma anti-democrática e discricionária expulsar militantes que o contestem, o que é senão tentar impor o “seguidismo”? Verdadeiramente grave é na “luta pelo poder” não respeitar a legalidade nem as regras democráticas, por enquanto no partido, mas atendendo aos comportamentos e princípios anti-democráticos que AV tanto gosta de alardear provavelmente se os eleitores o permitissem não se ficaria por aí. Se há uma esquerda “fundamentalista herdeira do totalitarismo soviético” que o diga o PCP, há igualmente uma direita extremista, fundamentalista e anti-democrática, herdeira do totalitarismo das velhas ditaduras fascistas e das autocracias, que desde sempre “deixaram de se importar com as pessoas e as causas, para se focarem de forma quase obsessiva na conquista, gestão e manutenção da autoridade” e do autoritarismo e na qual se insere o atual Chega liderado por AV. “Não é preciso uma bola de cristal”, o que é preciso é através de eleições livres e democráticas impedir que o poder caia de novo nas mãos dos seguidores daqueles que no passado tanto mal fizeram a madeirenses e porto-santenses.

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