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A Guerra Mundo

Vladimir Putin visita China à procura de apoio económico e diplomático

Putin em entrevista à China Media Group.   Foto EPA/SERGEI BOBYLEV/SPUTNIK/KREMLIN POOL MANDATORY CREDIT
Putin em entrevista à China Media Group.   Foto EPA/SERGEI BOBYLEV/SPUTNIK/KREMLIN POOL MANDATORY CREDIT

O Presidente russo, Vladimir Putin, deve reunir esta semana com os líderes chineses em Pequim, numa visita que sublinha o apoio económico e diplomático da China a Moscovo, sob crescente isolamento, devido à invasão da Ucrânia.

A visita de Putin constitui também uma demonstração de apoio à Iniciativa Faixa e Rota, um gigantesco projeto internacional de infraestruturas que se tornou no principal programa da política externa de Pequim.

A China considera a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, numa altura em que a sua relação com os Estados Unidos atravessa também um período de grande tensão, marcada por disputas em torno do comércio e tecnologia ou diferendos em questões de Direitos Humanos, o estatuto de Hong Kong ou Taiwan e a soberania dos mares do Sul e do Leste da China.

O líder russo é um dos convidados mais importantes a participar no fórum que assinala o 10.º aniversário da iniciativa "Faixa e Rota", ao abrigo da qual as empresas chinesas construíram portos, estradas, linhas ferroviárias, centrais elétricas e outras infraestruturas em todo o mundo, financiadas por bancos de desenvolvimento chineses. O programa cimentou o estatuto da China como líder e credora entre os países em desenvolvimento.

O programa da visita de Putin não foi confirmado, mas as autoridades chinesas sugeriram que o líder russo chega hoje a Pequim.

Questionado pelos jornalistas na sexta-feira sobre a visita à China, Putin disse que vai conversar com os líderes chineses sobre projetos relacionados com a Faixa e Rota, que Moscovo pretende associar aos esforços empreendidos por uma aliança económica entre nações da antiga União Soviética, maioritariamente localizadas na Ásia Central, para "alcançar objetivos de desenvolvimento comum".

Putin também minimizou o impacto da influência económica da China numa região que a Rússia há muito considera como a sua área natural de influência e onde tem trabalhado para manter a hegemonia política e militar.

"Não temos contradições, pelo contrário, existe uma certa sinergia", afirmou o líder russo.

Putin referiu que ele e Xi também vão abordar os crescentes laços económicos e financeiros entre Moscovo e Pequim.

"Um dos principais domínios são as relações financeiras e a criação de novos incentivos para fazer pagamentos em moeda nacional", disse Putin. "O volume está a crescer rapidamente, há boas perspetivas nas áreas da alta tecnologia e no setor da energia", contou.

Alexander Gabuev, diretor do Centro Carnegie Rússia - Eurásia, afirmou que, do ponto de vista da China, a Rússia é um "país vizinho seguro e amigável e uma fonte de matérias-primas baratas, que apoia as iniciativas chinesas na cena internacional e que é também fonte de tecnologia militar, alguma da qual a China não possui".

"Para a Rússia, a China é a tábua de salvação económica na sua repressão brutal contra a Ucrânia", disse Gabuev, citado pela agência de notícias Associated Press.

"É o principal mercado para as matérias-primas russas, é um país que fornece a sua moeda e sistema de pagamento para regular o comércio da Rússia com o mundo exterior - com a própria China, mas também com muitos outros países, e é também a principal fonte de importações tecnológicas sofisticadas, incluindo bens de dupla utilização que entram na máquina militar russa", descreveu.

Gabuev afirmou que, embora seja improvável que Moscovo e Pequim forjem uma aliança militar formal, a sua cooperação em matéria de defesa vai aumentar.

"Não espero que a Rússia e a China criem uma aliança militar", disse. "Ambos os países são auto-suficientes em termos de segurança e beneficiam de parcerias, mas nenhum deles exige realmente uma garantia de segurança do outro. Ambos pregam a autonomia estratégica", lembrou.

"Mas vai haver uma cooperação militar mais estreita, mais interoperabilidade, mais cooperação na projeção de forças em conjunto, incluindo em locais como o Ártico, e mais esforços conjuntos para desenvolver uma defesa antimíssil que torne o planeamento nuclear dos Estados Unidos e dos seus aliados na Ásia e na Europa mais complicado", acrescentou.

China e a antiga União Soviética foram rivais durante a Guerra Fria, disputando entre si influência entre os Estados comunistas. Desde então, estabeleceram parcerias nas esferas económica, militar e diplomática.

Poucas semanas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, Putin e Xi declararam, em Pequim, uma amizade "sem limites".

As tentativas de Pequim de se apresentar como mediador de paz neutro na guerra foram amplamente rejeitadas pela comunidade internacional.

A China condenou as sanções internacionais impostas à Rússia, mas não abordou diretamente o mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra Putin, acusado de envolvimento no rapto de milhares de crianças na Ucrânia.