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O que me faz correr

As redes sociais trouxeram alterações aos nossos hábitos, não só em termos de comportamento como de abertura a outras fontes de conhecimento e informação.

Dão-nos, aos que escrevemos ou partilhamos algum tipo de reflexão, uma falsa sensação de popularidade, que muitas vezes leva a que nos enchamos de nós próprios, daí que se deva sempre relativizar supostos unanimismos!

Púlpitos vários geraram vários governantes de hoje, cá e lá, com especial destaque para um dos novos ministros, que começou a dar nas vistas enquanto bloguinhas (a terminologia é minha…), não desfazendo nos ex-presidentes de ordens profissionais, ex ou actuais sindicalistas ou ex-padres.

Retomando o fio à meada sem desperdiçar assim muitos caracteres, no meio das loas que se tecem ao que dizemos aparecem os idiotas de serviço ao ataque. Eu por exemplo tenho dois ou três que me perseguem e que vão dizendo ou que vou à Quinta Vigia ouvir recados para depois escrever estes artigos ou que sou uma espécie de expatriado do pêpêdê, ressabiado e zangado com quem supostamente me expulsou de onde nunca estive.

Depois, há a ofensa gratuita, que nem sempre é fácil de digerir por mais avisados que estejamos para isso. Há ainda os que apelido de monoteístas do tema: - se não falamos do ferry, somos tontos; idem para a estrada das Ginjas, mesmo que em tempos até nos tenhamos manifestado sobre o assunto!

Nenhum deles discute conteúdo ou procura trocar opiniões.

Mentem, distorcem e desviam atenções sem pejo ou pudor; só me escapa com que objectivo.

O que me faz então correr, continuar a falar e a escrever, ciente de que não vou mudar absolutamente nada do curso dos acontecimentos, até porque como disse há tempos um governante, “já ninguém liga ao que este gajo diz” e que se calhar já começo a acusar o desgaste?

Penso nisto com alguma frequência, confesso. Porque muitas vezes fico farto de me ouvir; porque não sei gerir silêncios nem fazer discursos redondos; porque já percebi que existe uma incapacidade crónica em discutir lógicas diferentes; porque não vou mudar nada; porque não tenho qualquer desejo, vontade ou apetência em saltar para os partidos ou a política; porque as consequências do delito de opinião são difíceis de aguentar.

Temo que a vaidade possa sobrepor-se à falta de noção…

Gosto no entanto de pensar que corro pela minha Família. Corro com o objectivo de contribuir para um futuro que julgo pode ser melhor do que este presente. Pela afirmação, serena e espero que elevada, de determinados princípios.

Corro porque perco tempo a pensar, a reflectir e, por causa disso, por achar que posso contribuir. Porque gosto de falar, de escrever e de discutir. Mesmo correndo por gosto, às vezes cansa mas continuo a achar que calar durante décadas aquilo que se vê, ouve e sente deve ser muito pior…