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Mais de 70 economistas pedem a Washington para descongelar reservas afegãs

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Mais de 70 economistas apelaram à Administração Biden, numa carta aberta divulgada hoje, para libertar 7.000 milhões de dólares em reservas do Banco Central do Afeganistão congelados nos Estados Unidos desde que os talibãs tomaram o poder.

"Estamos profundamente preocupados com o efeito cumulativo das catástrofes económicas e humanitárias no Afeganistão de hoje, e em particular com o papel que as políticas dos EUA estão a desempenhar no seu desenvolvimento", escreveram os 71 autores da carta, incluindo o norte-americano Joseph Stiglitz, vencedor do Prémio Nobel da Economia de 2001, e o antigo ministro das Finanças grego Yanis Varufakis.

"Escrevemos hoje para vos exortar a tomar medidas imediatas para enfrentar esta crise, antes de mais permitindo que o Banco Central do Afeganistão (...) recupere as suas reservas internacionais", afirmaram, argumentando que o congelamento não se justifica.

Depois da tomada do poder pelos talibãs em agosto de 2021, Washington apreendeu em fevereiro 7.000 milhões de dólares (cerca de 6.976 milhões de euros, ao câmbio atual) de reservas do Banco Central Afegão depositadas nos Estados Unidos.

Com a suspensão da ajuda internacional, o Afeganistão mergulhou desde então numa grave crise financeira e humanitária, e viu o desemprego disparar.

"Setenta por cento das famílias afegãs não conseguem satisfazer as suas necessidades básicas", escrevem os signatários da carta aberta, enquanto cerca de 22,8 milhões de pessoas - mais de metade da população - enfrentam uma insegurança alimentar aguda e três milhões de crianças estão em risco de subnutrição.

"O Governo dos talibãs fez coisas atrozes", dizem os economistas, citando o tratamento das mulheres, raparigas e minorias étnicas, acrescentando que "no entanto, é moralmente errado, e política e economicamente irresponsável, impor castigos coletivos a todo um povo pelas ações de um governo que não escolheram", dizem eles.

No final de junho tiveram lugar negociações entre Washington e os talibãs sobre a libertação de fundos depois de um terramoto que matou mais de 1.000 pessoas no leste do país.

Joe Biden queria que metade dos 7.000 milhões de dólares fosse destinada à indemnização das famílias das vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA e a outra metade à ajuda humanitária ao Afeganistão, mas paga de forma a que o dinheiro não caísse nas mãos dos talibãs.

Mas os economistas dizem que a oferta de Washington não é satisfatória porque "a totalidade dos 7.000 milhões de dólares pertence ao povo afegão".

"Devolver menos do que o montante total mina a recuperação de uma economia devastada", dizem.