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Divagações…

Quem pertencer à classe média continuará, como sempre, a ser o bombo da festa

O governo veio anunciar um aumento de 10,00 € para os pensionistas. Não dêem pulos de alegria que a conversa ainda vai no adro… A actualização extraordinária, “com efeitos a 1 de Janeiro de 2022” é para os que têm uma pensão inferior a 2,5 vezes o IAS, isto é, 1.108,00 €.

É bom? Sim, porque a grande maioria dos pensionistas sai beneficiada.

Mas as minhas contas foram outras. A inflação já vai nos 8,7%... O arraial não é assim tão grande. E daqui até ao fim do ano ainda falta muito tempo.

É a política populista de protecção dos coitadinhos, dos pequeninos… Quem pertencer à classe média continuará, como sempre, a ser o bombo da festa e a ter de suportar e pagar os desvarios dos nossos eleitos.

Este episódio, fez-me lembrar a história do sapateiro pobre e os valores que o regime salazarengo nos incutia, na minha já longínqua primária: mais valia ser pobre e alegre do que rico e apaixonado. Resumindo a história: o sapateiro trabalhava à porta de casa para sustentar a família com os seus muitos filhos. Depois do trabalho, cantava ele e a família para iludirem a fome. Até que um dia o sapateiro encontrou uma pequena fortuna, num tacão duma velha e abandonada bota. Vejam lá o tamanho do tesouro…

A partir daí, acabaram-se as cantorias e o trabalho. Começaram as brigas, com cada um dos membros da família a defender a melhor forma de aplicar o tesouro encontrado.

Depois do entusiasmo inicial, lá a “razão” (salazarenga) veio ao de cima e decidiram desfazer-se de todo o dinheiro encontrado. Logo de seguida, recuperaram assim a antiga alegria de viver. O sapateiro voltou à porta de casa onde reparava as botas e sapatos e, ao fim do dia, retomaram-se as cantorias para alegria da casa e de toda a família.

Uma das conclusões que se tirava é que a “riqueza” é um mal que avassala os coitados dos “ricos” que não sabem se aplicam nas bitcoins, nos telexfrees, na bolsa, etc. Portanto, mais vale ser pobre e, assim, evitam-se problemas e dores de cabeça.

A reforçar e/ou complementar esta teoria, juntava-se-lhe a componente religiosa. Invocando-se a primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Só que a mensagem era dirigida mais para os pobres de espírito do que para os pobres em espírito. Não se esclarecia, como convém, que: uma coisa são os pobres EM espírito, isto é, os desprendidos dos bens terrenos, das riquezas e, outra coisa são os pobres DE espírito, isto é, os simplórios, os pobres, os desfavorecidos.

É que os regimes perpetuam-se na directa proporção da pobreza de espírito dos seus cidadãos.