A Guerra País

Portugal tem "papel forte" no suporte logístico à Europa

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O chefe de Estado-Maior da Armada defendeu hoje que a guerra na Ucrânia vai criar uma "nova era" geoestratégica e que Portugal tem um "papel forte" na defesa da "autoestrada" que assegura o suporte logístico à Europa.

"Como houve uma era antes da queda do muro de Berlim e após a queda do muro de Berlim, agora vai haver uma era antes do conflito da Ucrânia e depois do conflito da Ucrânia", afirmou Henrique Gouveia e Melo aos jornalistas, a bordo de um navio da Marinha que participou na operação de devolução ao mar de uma tartaruga marinha reabilitada pelo Porto d'Abrigo do Zoomarine.

O almirante considerou que "havia uma tendência para uma globalização em que o liberalismo e a economia uniam e evitavam conflitos", mas agora está a voltar-se "à 'real politik' e à geoestratégia antiga" e esses valores "não são suficientes para garantir que não voltasse a haver um conflito num espaço tão importante como o Europeu para a economia global".

Questionado sobre o papel de Portugal nesta nova "era" geopolítica, Henrique Gouveia e Melo respondeu que o país "é decisivo num aspeto que muitas vezes é passado de forma subliminar, sem as pessoas se aperceberem", que é a logística.

"Imaginem o que é que está a acontecer à Rússia e qual é a grande dificuldade da Rússia no conflito. É uma dificuldade logística. É uma grande potência e está a enfrentar no conflito uma dificuldade logística fortíssima. E é essa dificuldade logística que, graças a Deus, para nós, que estamos do outro lado, nos tem favorecido", afirmou.

Para o chefe de Estado-maior da Armada, os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla inglesa), "que estão à volta do oceano Atlântico Norte", têm também "problemas logísticos" e usam "uma grande autoestrada, que é o oceano Atlântico Norte, para evitar problemas logísticos de suporte à própria Europa"

"Se nós não tomarmos conta dessa autoestrada, qualquer ação na Europa fica imediatamente condicionada. Qual é o papel de Portugal, é que estamos a tomar conta precisamente dessa autoestrada e temos uma rotunda na autoestrada, que se chama arquipélago dos Açores", acrescentou.

Portugal tem, por isso, uma "importância geoestratégica" que "foi reforçada com este conflito" e que advém da sua "posição marítima", que o diferencia dos restantes países da Aliança Atlântica, argumentou.

Sobre se o investimento militar português é suficiente para essa tarefa, Henrique Gouveia e Melo respondeu que isso são "assuntos de política" e "competência do poder legitimamente eleito pelo povo português".

"A política define objetivos, metas temporais e recursos, nós militares, com os recursos definidos, com as metas definidas e os recursos que nos foram dados, tentamos planear e cumprir o objetivo político que se determinou", justificou.

O chefe de Estado-maior da Armada considerou, no entanto, que os militares têm "sempre meios para defender a rotunda".

"Podemos ter mais meios ou menos meios, a rotunda não é só defendida por Portugal, mas Portugal tem um papel forte nessa defesa e os meios são aqueles que o país consegue proporcionar à dimensão do país e esse esforço também tem de ser feito à dimensão do país", sublinhou.

E concluiu: "Se o fizermos bem [a defesa], temos mais liberdade geoestratégica dentro deste mundo internacional e globalizado, se o fizermos mal reduzimos a nossa liberdade geoestratégica".