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Zimbabué revoga controversa proibição dos bancos comerciais concederem crédito

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O Banco Central do Zimbabué revogou hoje uma ordem controversa que proíbe os bancos comerciais de conceder crédito desde 08 de maio, numa última tentativa de travar a desvalorização do dólar do Zimbabué.

O governador do Banco Central, John Mangudya, anunciou o levantamento da proibição "com efeito imediato", através de uma declaração.

Contudo, acrescentou, esta última medida "não se aplica às entidades que estão a ser investigadas pela Unidade de Informação Financeira por abuso de facilidades de crédito, em detrimento da economia do país".

A suspensão temporária dos empréstimos bancários no Zimbabué foi anunciada pelo Presidente do país, Emmerson Mnangagwa, em 08 de maio, uma decisão que foi fortemente criticada no país.

Mnangagwa advertiu que os empréstimos bancários são "propensos a abusos", em referência a algumas entidades e pessoas que utilizam o dólar zimbabueano para comprar moedas estáveis, alimentando a queda no valor da moeda local.

O principal grupo empresarial do país, a Câmara Nacional de Comércio do Zimbabué, disse que a mudança afugentaria os investidores, que não estão dispostos a colocar o seu dinheiro em países "onde os empréstimos bancários podem congelar da noite para o dia".

Além disso, a medida causou danos a algumas empresas, tais como a fábrica de açúcar Tongaat Hulett, que em 12 de maio suspendeu os pré-pagamentos aos agricultores de cana-de-açúcar no sudeste do país, porque estas transações foram feitas com dinheiro emprestado.

"A proibição de empréstimos bancários nunca deveria ter sido imposta. Foi uma decisão flagrantemente ilegal, irracional e sem fundamento", referiu o político da oposição e ex-ministro das Finanças, Tendai Biti, na sua conta na rede social Twitter.

A inflação do dólar do Zimbabué ultrapassa agora os 96%. Devido a esta crise económica, a maioria dos zimbabueanos está a lutar para pagar os bens básicos, cujos preços continuam a subir.

Como a procura de moeda estrangeira no país excede a oferta, muitas empresas são forçadas a procurar moeda estrangeira no mercado negro, aumentando as taxas e enfraquecendo o dólar zimbabueano.

No final de abril, o vice-ministro das Finanças, Clemence Chiduwa, revelou que gestores de 256 empresas tinham sido detidos por transações cambiais ilegais.

No meio da crise entre 2006 e 2008, o Governo emitiu uma nota de 100 biliões de dólares do Zimbabué, que nem sequer era suficiente para comprar um pão de forma. A medida teve um impacto limitado e o Zimbabué acabou por adotar o dólar americano como a sua moeda local, de 2009 a 2016.

O dólar zimbabueano foi reintroduzido em 2016, inicialmente com notas de dois e cinco dólares.