A Guerra País

Guerra gerou 'abanão' que sugere tendência para maior investimento em Defesa

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O general Luís Valença Pinto defendeu hoje que a agressão da Rússia à Ucrânia levou a um "abanão que está a sugerir" uma tendência de maior investimento na Defesa, alertando que guerras futuras serão cada vez mais híbridas.

O antigo Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) entre 2006 e 2011 falava numa conferência virtual intitulada "Cenários de emprego das Forças Armadas no futuro", promovida pela secção de Ciências Militares da Sociedade de Geografia de Lisboa.

"Penso que agora estamos a enfrentar um 'abanão' que está a sugerir que de facto tenderemos, se tenderá, no quadro da Europa e da Aliança Atlântica a aumentar um pouco o investimento em Defesa", considerou.

Precisamente, continuou o general, "porque a Defesa é uma componente fundamental da estruturação do estado e uma importantíssima política pública nesse sentido".

O general referiu que o objetivo de atingir 2% do Produto Interno Bruto em despesas militares pedido pela NATO não é a questão, "é preciso saber é como é que se gastava esses dois por cento do PIB".

Recentemente, o ministro da Defesa defendeu que o objetivo de chegar aos 1,68% do Produto Interno Bruto em despesas militares até 2024 "terá de ser repensado", prevendo um aumento do investimento em defesa, acompanhando a tendência de outros países europeus.

Na sua exposição de cerca de meia hora sobre os cenários de emprego das Forças Armadas no futuro, Valença Pinto apontou que "dos modelos militares do passado podem e devem retirar-se referências éticas e institucionais, e muitos e bons exemplos, mas deles não se podem esperar modelos organizativos e operacionais inteiramente adequados às novas e evolutivas condições e requisitos".

Segundo Valença Pinto, "as guerras do futuro tenderão a ser todas híbridas" e "nenhuma guerra híbrida será igual a outra guerra híbrida", alertando para a dificuldade de antecipar cenários.

"As Forças Armadas devem ter como certo que os cenários da sua ação futura serão marcadamente diferentes e que é para o inédito, para o inesperado e imprevisto, e não para o que já experimentaram, que têm que estar preparadas", disse.

Valença Pinto levantou ainda a questão da especialização militar, confessando que sempre se assumiu contra esta ideia, mas hoje tem um entendimento um pouco diferente sobre a matéria.

"Continuo a preconizar que as Forças Armadas, e em concreto as Forças Armadas portuguesas, mantenham e desenvolvam, com elevado padrão tecnológico, capacidades gerais com que possam cobrir a zona central do espetro de ação militar, mas considero possível que num quadro de partilha e de harmonização coletiva da NATO e ou da UE se admita, no interesse comum e na busca de melhor rendimento, maximizar uma ou várias dessas capacidades", defendeu.

Compreendida dessa forma, continuou, Portugal especializar-se em determinadas funções militares, "não corresponderá a estreitar as capacidades num domínio muito exíguo, mas antes a desenvolver algumas delas até um patamar de excelência máxima e eventualmente ímpar no contexto de aliados e parceiros, e claro, mantendo todas as outras num bom e ajustado padrão".