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Doce ou salgado?

Se o meu dentista ler este artigo vai ficar contente, porque eu prefiro salgado. Não resisto a um pacote de batatas fritas, mas passo muito bem sem bolos. Ainda por cima sabendo, como sei agora, que o Salgado, por ordem do tribunal, passará a ter uma validade de seis anos. Muito melhor, sabendo que estou livre de ouvir a expressão “acabou-se o que era doce”. Salgado é que é.

Vem isto a propósito da sentença proferida esta semana pelo tribunal, que ordenou a prisão efetiva ao antigo Dono Disto Tudo. Mas convém avisar o homem, não vá Ricardo Salgado usar o Alzheimer para alegar que se esqueceu de ir preso. O tribunal também já tomou conta disso. Enquanto os advogados recorrem e não recorrem, o Ministério Público pediu que a medida de coação fosse agravada para a proibição de se ausentar do país e de apreensão de passaporte. Acho que o juiz, que leu a sentença de oito anos de investigações em dez minutos, fez duas coisas: primeiro, deu uma lição a Ivo Rosa, porque se o juiz madeirense tivesse aprendido com aquele magistrado não demorava uma tarde inteira a ler a acusação do processo de Sócrates. Depois, quis salvaguardar a fuga de um doente de Alzheimer, pois todos conhecemos casos de pessoas que fogem de casa e não sabem voltar.

Olha se o Ricardo Salgado sai de casa, desorientado e vai parar a um país de onde não pode sair para vir para Portugal cumprir pena!! O juiz foi previdente. E até lhe pediu para entregar o passaporte, assim se ele fugir de casa só pode ir até Faro, ou na melhor das hipóteses, à Ilha das Flores.

Salgado vai preso? Ele não está muito importado com isso. Metade do tempo vai se esquecer de que está a cumprir pena. A minha avó teve Alzheimer e passava metade do dia a tentar lembrar-se da outra metade, mas era feliz à maneira dela. Quem sofre é o cuidador, que tem de estar sempre atento, para não perder a pessoa doente. E perder o Salgado antes de ir preso é um risco que se corre…

Tenho para mim que vamos assistir ao nascimento de um sistema bancário paralelo dentro do sistema prisional português. Com tanto banqueiro a ir lá bater com os costados (onde é que anda o Rendeiro?), não tarda nada temos as cadeias com maior rendimento “per capita” do mundo e o Salgado e o Rendeiro, no lusco-fusco das celas, a contar dinheiro vivo e a escondê-lo debaixo dos colchões, com o lápis preso na orelha e o cigarro a fumegar no canto da boca. E quando alguém vislumbrar o Salgado com um código de quatro dígitos escritos no braço, não pense que é o número de detido. É mesmo o código do Multibanco, não vá o homem esquecer-se do que deixou cá fora quando sair. Se algum dia entrar…