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Neo-negacionistas

Não apareceram agora mas são espécie recente, que vem aprimorando o discurso e a postura com o tempo

A versão longa e sem limitação de caracteres desta minha teoria pode ser lida numa publicação que fiz no facebook, isto para aqueles que possam tender para algum masoquismo; pior do que me ler uma vez, só mesmo duas ou três…

Não sei se alguém ouviu, no meio do ruído “putiniano” que nos consome a atenção, a declaração do Sr. Boris Jonhson sobre as responsabilidades que devem ser assumidas pelos governos em face das decisões tomadas para controlo da pandemia. Sim, sim; é essa mesma, a questão que aqui recorrentemente tenho trazido e que a surdez dos neo-negacionistas insiste em ignorar.

Diz ele, o 1º Ministro britânico, que as empresas têm de ser indemnizadas pelos prejuízos causados por decisões que não são delas e por resultados negativos provocados por terceiros, que nada têm a ver com gestão, mercados ou afins. Estranho? Só mesmo para quem acha que a decência é conceito ultrapassado e a responsabilidade inimputável.

E quem são então, estes neo-negacionistas? Não apareceram agora mas são espécie recente, que vem aprimorando o discurso e a postura com o tempo. Começaram por nos contar umas historietas, tergiversando sobre assuntos quando incómodos ou pouco ligados à narrativa que queriam que vingasse.

Os números do Turismo não são bons? Falemos do sucesso na exportação de abacates! Existe clara incoerência entre reformulações de planos estratégicos e promoção de vistos gold? O plano de vacinação regional é “case study” mundial! A Ómicron trouxe mais 3 meses de quebra de receita? Temos mais uma ligação aérea com a Moldávia!

Pelo meio, os neo-negacionistas foram ganhando corpo e, quando se trata de ter de confrontar pessoas com outras opiniões – a que eles chamam imediatamente de negacionistas – são autênticos buldozers e nem param mesmo perante o cerceamento das liberdades mais básicas. Vai tudo a eito e a Constituição, tal como a lógica, é uma batata!

Qual, no entanto, a característica maior dos neo-negacionistas? Rodeados de pessoas que lhes dizem ámen a tudo, a total e mais completa irresponsabilidade, a que se junta uma significativa dose de falta de noção.

Um Plano de Recuperação e Resiliência que serve para recuperar o Estado ou para jogar dinheiro em mais obras públicas e, ao mesmo tempo, que ignora sectores com quebras de receita superiores a 60%, que os neo-negacionistas dizem se deve a decisões da República enquanto criam um comité regional para a sua implementação, foram a cereja no topo da legitimação desta minha teoria.

Num cenário onde as empresas de mais pequena dimensão estão completamente descapitalizadas, tendo as suas poupanças se esvaído no esforço de manutenção da porta aberta e dos postos de trabalho, o que decidem os neo-negacionistas?

Ignorem-se as vozes dos que falam deste novo desbaratar de verbas sem critério, negando a real situação e fazendo de conta que a responsabilidade é do Covid, da União Europeia, do clã Bush ou do lobby da banana. Deles, dos neo-negacionistas, é que não é de certeza! Burros são os ingleses…