Indignação, dirige os meus passos!

Vivemos rodeados de pessoas tóxicas que prejudicam o nosso quotidiano e a nossa saúde mental. Podemos chamá-las de "amigos", colegas, familiares, etc.

Para elas não conta o que somos. A primeira vista é sempre sobre as roupas que vestimos, o carro que conduzimos e a casa que possuímos.

Quando acontece a morte de alguém, mais próximo ou mais distante nas relações pessoais respectivas, surgem em larga escala as mais diversas e compungentes mensagens de consternação pela perda sofrida. Quão fingidos e cobardes nós fomos e somos, em tais circunstâncias.

Quando ele ou ela precisava que o/a ouvissem, que o/a olhassem e, ou pelo menos, lhe sorrissem, voltámos-lhe a cara e seguimos em frente. Agora, que já não nos pode ver nem ouvir, derramamos nossas lágrimas grávidas de falsidade, reflexo de sentimentos lamacentos.

Como se poderá estabelecer uma relação de cordialidade franca e aberta num aglomerado de indivíduos que, no dia a dia, na vida corriqueira passam uns pelos outros como meros estranhos? Ou só se (re)conhecem em datas especiais com direito a comes e bebes e outras benesses? Como se fomenta uma saudável socialização da comunidade só com "meia dúzia" de intervenientes que, por sinal, são quase sempre os mesmos? Confesso a minha apreensão, aliada a alguma indignação, quando penso que para determinados fins há sempre verbas disponibilizadas, embora desconheça os montantes e sua proveniência.

Tais verbas, canalizadas noutro sentido, quem sabe não ajudariam a colmatar necessidades prementes que se põem neste momento.

Indigna-me olhar para um dos meus cães e vê-lo definhar, gravemente doente, porque não teve assistência médica veterinária atempadamente, porque não há um médico veterinário a tempo inteiro no meu município.

Indigna-me saber que não há campanhas de esterilização (de cães e gatos) gratuita ou a preços módicos para evitar a propagação de animais errantes e não só.

Indigna-me saber que os doentes que precisem de consultas médicas de especialidade, tratamentos mais complexos e cirurgias sejam obrigados a deslocar-se à Madeira porque na sua terra não têm essa oportunidade e não sei se algum dia terão.

Indigna-me verificar que não há quem ponha travão à escalada de preços praticados nas superfícies comerciais, sobretudo no que se refere aos bens alimentares.

Indigna-me saber que, independentemente do rendimento familiar, o preço dos bens de consumo é o mesmo com as consequências que daí advêm para quem tem fracos recursos.

Indigna-me que se passe a ilusão de que habitamos num verdadeiro Éden, quando vivemos num torpor cínico de que alguém se possa aproveitar para agir arbitrariamente.

Nem todos somos iguais e isto de dar a outra face é uma boa recomendação, mas há situações em que a indignação assume enorme vantagem.

Há quem lide mal quando confrontado com factos incómodos e reaja com alguma virulência, mas "contra factos não há argumentos”, lá diz a velha máxima.

Indignem-se.

Madalena Castro