Análise

Revisores desfocados

Acabem com os anacronismos, mas tenham cautela com os direitos inquestionáveis

Toda a gente assume, inclusive quem teve o azar de cair nas margens da Autonomia, que o problema da insegurança na Região é crescente. O drama é que em vez de resolvê-lo, muitos optam por fixar atenções na provocação, seja em forma de hipérbole, metáfora ou sarcasmo, que ao menos teve o mérito de colocar um assunto de lesa confiança e qualidade de vida na ordem do dia.

A percepção pública é evidente. Os receios na via pública crescem, sobretudo à noite e no Funchal. De resto, apesar do crescente número de casos relacionados com assaltos ou agressões, 77% dos madeirenses consideram-se totalmente ou muitos seguros quando andam sozinhos na rua durante o dia. Uma percentagem que desce para 60% quando confrontados com a segurança na via pública depois de anoitecer, conforme mostra a sondagem da Aximage.

Perante os dados inequívocos e uma vez que é consensual que importa reforçar o policiamento em vez de distribuir armas pela população, convém começar a definir prioridades para que tal desejo se concretize. Independentemente da farda urge manifestar autoridade em cenários de delinquência acelerada de modo a travar abusos, assaltos e incómodos. Como se faz? Reestruturando a PSP, a braços com esquadras de trabalho desigual por toda a Região, mas que em dia de tamanho movimento nas principais ruas do Funchal não foi capaz de meter agentes fardados para dissuadir eventuais inimigos do turismo de cruzeiros. Criando polícia municipal que para o sábio da ilha é uma “tontaria”, o que subscrevemos se for uma força raquítica que se limite a passar multas menores e a fiscalizar esplanadas. Dando maior protagonismo e funções à GNR, a exemplo do que acontece noutras paragens neste País que é uno, mas que por vezes parece manta de retalhos em matérias essenciais. Valorizando a segurança privada, os guardas-nocturnos e a educação para os equilíbrios sociais.

Já que andam os políticos tão entusiasmados com a Revisão Constitucional, aproveitem a embalagem e façam mais do que uma mera reforma do sistema político.

A maratona que tem o Chega como lebre já vem tarde, mas vale sempre a pena questionar o aparente definitivo em diversas áreas. Logo, se avançar mesmo, que seja profunda em vez de cosmética, não atente contra os direitos, liberdades e garantias inquestionáveis e sobretudo descomplique a vida, por agora muita emaranhada em burocracias, leis anacrónicas e em vícios de quem teme perder o poder, por muito insignificante que seja.

Quanto ao ‘timing’, ficamos com a sensação que sempre que as prevaricações ganham lastro em Portugal, as diversões concebidas para desviar atenções sobem de tom. E se a coisa não pega com a novela em torno do hipotético fim dos vistos gold, ou das novas estratégias para fixar nómadas digitais, nada melhor do que servir apressadamente a requentada revisão, mesmo sem a certeza que é desta que a adaptação à modernidade pega de galho.

Como há muito por fazer para que possamos ser mais democratas, mais livres e mais despachados convinha não empapelar em demasia, sob pena de, numa simples ida à revisão, a máquina ficar pior do que estava.