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Política monetária deve ser gradual e esperar efeitos

Quem o defende é Vítor Constâncio, antigo vice-presidente do BCE

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O antigo vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio, defendeu hoje que a política monetária deve ser gradual e, a partir de certo nível das taxas de juro, deve esperar para analisar os efeitos pois leva tempo a produzir resultados.

"A política monetária deve ter em conta um horizonte mais dilatado de previsões, o que é reforçado pelo facto de essa política levar tempo a produzir efeito, o que é um ponto crucial em episódios de inflação", afirmou Vítor Constâncio, na sessão inaugural do programa das comemorações do 25.º aniversário da Ordem dos Economistas, que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Segundo este responsável, a política monetária "deve evitar agravar, tanto quanto possível, a recessão que se anuncia na economia mundial no próximo ano", e os problemas de acesso à energia estão a "agravar o pessimismo" do economista quanto a essa recessão que se aproxima.

Sobre a subida das taxas de juro, alertou que o elevado nível de endividamento público e privado implica que os aumentos significativos das taxas de juro geram "riscos significativos" para a estabilidade financeira.

"Esta é uma característica que torna a situação atual diferente de episódios de inflação passados, como nos anos 70", avisou, destacando que os bancos centrais têm de considerar o nível de atividade económica e têm também de se ocupar com a estabilidade do sistema financeira, desta vez não dos bancos, mas das instituições não bancários e dos mercados da dívida.

"Não se pode excluir a possibilidade de uma crise financeira que obrigue os bancos centrais a inverter a atual política", afirmou, lembrando que a inflação tem "óbvias consequências para a condução da política monetária, o que "deve influenciar a calibração dos respetivos instrumentos".

Vítor Constâncio defendeu que os problemas de distribuição que a inflação provoca "são muito difíceis de resolver de forma equitativa" e que, tratando-se de inflação importada, como a atual, o aumento dos preços internacionais corresponde a um imposto cobrado no exterior a toda a economia e respetiva população.

O presidente da Confederação da Industria Português (CIP), António Saraiva, também orador no encontro, falou sobre a necessidade de "respostas urgentes" dos decisores políticos e empresariais e, no que respeita à política monetária, considerando que a missão dos bancos centrais de assegurar a estabilidade dos preços conta com "instrumentos inadequados" para combater a inflação.

"No confronto entre o combate à inflação e o combate à recessão, o primeiro objetivo está a ser privilegiado", afirmou.

Reformas fiscais, da administração pública e da justiça são essenciais, destacou António Saraiva, explicando que não bastam medidas pontuais e que é necessária "uma reforma profunda" da fiscalidade, nomeadamente que proporcione um quadro legal mais simples, transparente, coerente e compreensível.