A Guerra Mundo

Berlusconi não consegue "ver" Zelensky e Putin "numa mesa de negociações"

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O ex-primeiro-ministro de Itália Silvio Berlusconi disse que não consegue "ver" os presidentes da Ucrânia e da Rússia, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin, respetivamente, sentados "numa mesa de negociações", segundo uma gravação da agência de notícias italiana LaPresse.

Berlusconi adiantou ainda que "não diz o que pensa" sobre o chefe de Estado ucraniano.

"Não consigo ver como Putin e Zelensky se podem sentar numa mesa de negociações", salientou o líder do partido Força Itália, que já havia dito ter retomado as relações com o presidente russo, trocando garrafas de vodka e vinho lambrusco, bem como elogios.

"Porque não há forma! Zelensky, na minha opinião... esqueça, não posso dizer", prosseguiu na gravação.

Recentemente, Berlusconi afirmou que Putin foi forçado a invadir a Ucrânia, querendo substituir Zelensky por pessoas "decentes".

A gravação publicada hoje também revelou que o italiano disse que o líder do Kremlin "entrou na Ucrânia e viu-se perante uma situação inesperada e imprevisível de resistência por parte dos ucranianos, que começaram, a partir do terceiro dia, a receber dinheiro e armas do Ocidente".

"A guerra, em vez de ser uma operação de duas semanas, tornou-se uma guerra de 200 anos ou mais", observou.

Berlusconi também disse aos militantes do Força Itália que não havia mais líderes verdadeiros na Europa ou nos Estados Unidos. "Só eu", exclamou.

As declarações do antigo chefe do Governo italiano criaram mal-estar na coligação de direita e extrema-direita, segundo a imprensa do país.

A gravação terá chocado a futura primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, que está a trabalhar para formar o novo Governo com Silvio Berlusconi (Força Itália) e Matteo Salvini (Liga).

No entanto, o Força Itália emitiu apressadamente um comunicado para esclarecer a posição do partido em relação à Rússia e à Ucrânia, que está "em linha com a Europa e os Estados Unidos".

Por seu turno, a esquerda alertou que "não é folclore, não é piada".

"A nova maioria está a iniciar uma mudança na trajetória de Itália para uma posição cada vez mais ambígua em relação à Rússia", denunciou o líder do Partido Democrata, Enrico Letta, no Twitter.

No resto da gravação, Berlusconi parece ainda culpar o chefe de Estado ucraniano pela guerra que, segundo o mesmo, "triplicou os ataques" contra as autoproclamadas repúblicas do Donbass.

"Em 2014 em Minsk, na Bielorrússia, foi assinado um acordo entre a Ucrânia e as duas repúblicas recém-formadas no Donbass para um acordo de paz e para que ninguém ataque ninguém. Um ano depois, a Ucrânia lança esse acordo e começa a atacar as fronteiras das duas repúblicas", acusou.

Hoje, a União Europeia (UE) lembrou que qualquer contacto com as autoridades russas deve ter como prioridade pedir o fim da guerra da Ucrânia, em relação à retoma da amizade de Berlusconi e Putin.

"Não vamos comentar sobre os diferentes políticos que querem renovar contactos com quem quiserem", disse a porta-voz dos Negócios Estrangeiros da UE, Nabila Massrali.

Massrali assegurou que os Estados-membros são "livres para fazer os contactos bilaterais que considerem convenientes" desde que respeitem "as posições e políticas da UE, em que reduzimos essas relações ao mínimo necessário".

"Os contactos com os homólogos russos não são proibidos", explicou, mas sublinhou que "a prioridade deve, naturalmente, ser a de transmitir as suas posições em relação à invasão e agressão ilegítimas contra a Ucrânia".

"Peçam aos seus homólogos russos que a parem imediatamente e cumpram a lei internacional", acrescentou a porta-voz de Josep Borrell.