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Pavões e Coitadinhos

Na política os líderes têm de ter uma grande capacidade de mobilização

O meu amigo Roberto apresenta-se orgulhosamente como “chefe da claque” da Associação Desportiva da Camacha. É efetivamente o líder incontestável, mas com uma especificidade: é o único elemento da claque. Sim, e isso em nada diminui a admiração que tenho por ele e pela forma como se entusiasma e cumpre a sua missão. É dono do seu caminho, sem mais ninguém. Como no Invictus, de William Ernest Henley, poema que inspirou Nelson Mandela na prisão, é “o mestre do seu destino, é o capitão da sua alma”. É genuíno e vive as suas paixões. Merece o meu respeito e esta referência pública.

Na política é diferente. A política tem de ir além desta visão romântica. Na política os líderes têm de ter uma grande capacidade de mobilização. Os verdadeiros líderes são-no muito antes de terem o poder. São pessoas de carisma e de carácter e não precisam do poder para se assumirem como líderes. Esses sim, constroem o futuro.

Esses são os líderes verdadeiros, mas, muitas vezes, as circunstâncias deixam surgir as meras representações de liderança. São os chamados líderes de coisa nenhuma. E, nos líderes de coisa nenhuma, temos duas grandes categorias: os líderes coitadinhos e os líderes pavões.

Os líderes coitadinhos são líderes porque são coitadinhos. São líderes porque fazem crer que todos lhes querem mal. E o mal que fazem está sempre cheio de boas intenções, mesmo quando cometem ilegalidades. Valem muito pouco. São os donos da chave e lidam muito mal com a democracia. Fazem o bem aqui e ali, numa gestão de circunstâncias de poder. Dizem umas “baboseiradas” com muito pouco conteúdo. Vivem de intrigas. São incoerentes no seu discurso e têm muito pouco para dar em termos de futuro sustentável, mas aguentam-se porque são coitadinhos.

Os líderes pavões, de grande plumagem, vivem de uma artificialidade assustadora. Vendem uma força que, em boa verdade, não têm, porque também não têm percurso profissional relevante. Não têm visão, nem estratégia. Não valem grande coisa. Enchem os pulmões e flutuam sobre o seu próprio ar, enquanto embrulham discursos vazios que declamam para si próprios. Peito cheio e olhar altivo. São os verdadeiros “peitaças”. São generosos, mas apenas consigo próprios. Simpáticos de ocasião. Dão pancadinhas nas costas. Não têm nada para dar e convocam meia dúzia de figurantes de circunstância em eventos de propaganda que disfarçam uma total incapacidade de mobilização.

Pavões e coitadinhos têm em comum o facto de, na verdade, serem fracos e uns pobres diabos. Compram companhia e olham apenas para si e para o seu umbigo. Não têm sentido institucional. Procuram servir-se e especializam-se em todo o tipo de truques e manobras para manter o poder que lhes caiu nos braços. Efetivamente, não têm grande mérito na forma como alcançam o poder, mas são espertos na forma como o tentam manter. São populistas e matreiros. Bem vistas as coisas, são produtos vazios. Vendem aquilo que não são. Lideram fantasmas. Não têm chama nem rasgo. Com eles não vamos a lado nenhum. Descubram-nos!