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Quem nos trata da saúde mental?!

Mais um diretor do serviço de Psiquiatria, do SESARAM, bate com a porta. Já perdi a conta de quantos diretores aquele serviço já teve na última década. É demissão atrás de demissão, é crise atrás de crise. Se esta situação não fosse demasiado grave, até podíamos 'passar ao lado' do assunto e falar de outras coisas mais agradáveis neste novo ano em que se renovam as expectativas de termos mais e melhor serviço de saúde. No entanto, e porque é da nossa Saúde Mental que se trata, talvez não seja má ideia pedir que garantam alguma estabilidade àquele serviço. Temos, cada vez mais, conterrâneos nossos que necessitam de cuidados de saúde mental. Se a situação já era grave antes da pandemia, muito mais complicada é após o aparecimento de um vírus que nos 'atira' para o necessário "distanciamento social" e, durante tanto tempo, nos manteve em confinamento. Tratar da saúde mental de todos os madeirenses é, hoje, tão importante como tratar de doentes com COVID, cancro ou qualquer outra patologia. Até porque todos esses doentes necessitam, não raras vezes, de cuidados de saúde mental. O deixar andar, o não se preocupar com a instabilidade num corpo clínico que é fundamental para a nossa saúde é tão inaceitável quanto criminoso. conheço, através da comunicação social, as razões que estão na base da saída de Daniel Neto. Conheço-o e considero-o um excelente profissional de saúde que muito tem dado aos utentes do SESARAM, e que tanto ficam a perder com a sua saída e com a saída de outra médica que, por solidariedade, fez o mesmo. Sei que existem outros médicos psiquiatras, igualmente competentes e capazes de dirigirem aquele serviço. Precisamos, todos nós, utentes do SESARAM, de um Serviço de Psiquiatria estável, que funcione e que evite a debandada de médicos desta especialidade para o privado ou, ainda pior, para fora da Região, quando tanto necessitamos dos seus cuidados. Já nos basta estarmos, na opinião do psiquiatra demissionário, com trinta anos de atraso em relação ao restante território nacional no que diz respeito, por exemplo, à não existência de uma ala psiquiátrica no nosso hospital para internamento de doentes agudos, como é recomendado. Não vou recordar os inúmeros casos de tentativas de suicídio, homicídios e outras tragédias que nos têm batido à porta, nos últimos tempos, para reforçar a importância de termos um serviço de psiquiatria com estabilidade que não pode estar dependente de uma permanente "guerra de egos". Só é preciso que alguém faça alguma coisa para estancar a saída de psiquiatras do SESARAM, trazendo, de volta, os que saíram e que tanta falta fazem!