A "decoração interior" do 4.° andar

Há sensivelmente 8 anos, vim parar a este mesmo 4 piso, à ala nascente, obrigatoriamente e sem grande opção de escolha, por ter sido mãe pela primeira vez. Para além de tudo o que implica trabalhar em geral num hospital, há certos pisos, alas dos mesmos hospitais que exigem, no mínimo, uma empatia acima da média. Obstetrícia deveria ser um deles. A mulher que passa por um parto, seja ele qual tipo for, está no mínimo dos mínimos, fragilizada. Tenha ela a experiência que tiver. É deplorável ver que passados 8 anos, volto aqui, e o serviço é exatamente o mesmo - ou pior. Tirando cerca de 3 enfermeiras que realmente estão lá para as recente mães, as mulheres que aqui trabalham - Sim ainda por cima mulheres - que supostamente estão cá para nos ajudar, orientar, facilitar um pouco esta (à partida curta) estadia, carecem de uma forma estrondosa e visível de competências sociais. De humildade. Aliás, humanidade. É triste as experiências partilhadas por tantas outras mulheres serem similares, no que diz respeito à falta de sensibilidade, de apoio, de altruísmo neste serviço. Ouvi bebés a chorar de dor, e enfermeiras a “diagnosticá-los” à mãe que tinham falta de afeto. O brilho a desaparecer dos olhos dessa mãe ao ouvir tal coisa, por achar que a falha era dela. Ouvi bebés a chorar noites inteiras e ninguém, absolutamente ninguém, vir prestar assistência porque “a mãe não chamou”. Vi mães com dores que “não tinham direito a medicação porque também não pediram”.

Independentemente da experiência que temos, de quantos partos ou filhos temos já em casa, cada experiência é singular e sensível. No entanto, aqui, a todas as mulheres é incutida a obrigação de amamentar. Pasmem : de até saber como amamentar! Se dizemos que queremos suplemento para o bebé, recusam porque dizem que faz mal, que devemos insistir e conseguir senão descuramos do nosso papel, e somos então já péssimas nos primeiros dias que estamos a tentar cumpri-lo. O primeiro contacto que temos com a maternidade é este. É aqui que temos a nossa primeira impressão como mãe. Do bebé número 1, do 2, do 3. Seja como for. E saímos deste serviço devastadas pela falta de tudo, inclusive sororidade que existe aqui.

Apesar de tudo 8 anos depois descobri algo novo nesta vinda: infelizmente sai tanta gente infeliz deste serviço. Principalmente os que trabalham cá, que para negligenciarem tanto as mães que por aqui passam, certamente são muito infelizes no que fazem.

É este o incentivo à natalidade?

Francisca Gouveia