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UE critica novo Governo afegão por não ser "inclusivo nem representativo"

Josep Borrell, Alto Representante da União Europeia para a Política Externa
Josep Borrell, Alto Representante da União Europeia para a Política Externa

A diplomacia da União Europeia (UE) criticou hoje a formação do novo Governo afegão por não ser "nem inclusivo nem representativo" da diversidade étnica e religiosa, vincando que não corresponde "ao que os Talibãs prometeram nas últimas semanas".

"Após uma primeira análise dos nomes anunciados, esta não se assemelha à formação inclusiva e representativa da rica diversidade étnica e religiosa do Afeganistão que esperávamos ver e que os Talibãs prometeram nas últimas semanas", indica em comunicado um porta-voz da diplomacia da EU.

Depois de os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE terem, na semana passada, salientado a necessidade de o Afeganistão ter um governo de transição "inclusivo e representativo", o porta-voz recorda na nota hoje divulgada que esta foi "uma das cinco condições estabelecidas" para o estabelecimento de relações entre o bloco europeu e o novo governo afegão.

A reação surge depois de, na terça-feira, o principal porta-voz dos talibãs ter anunciado que Mohammad Hassan Akhund vai assumir a chefia do novo Governo afegão, mais de três semanas depois da tomada do poder pelo movimento extremista islâmico.

O cofundador dos talibãs Abdul Ghani Baradar será o número dois do novo executivo.

Hassan Akhund chefiou o Governo dos talibãs durante os últimos anos do seu anterior regime (1996-2001), enquanto Baradar, que liderou as negociações com os Estados Unidos e assinou o acordo para a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, é um dos seus dois adjuntos.

O porta-voz anunciou ainda a nomeação de Yaqub, fundador do movimento e chefe de Estado de facto do Afeganistão durante o anterior regime) para ministro da Defesa e de Sirajuddin Haqqani (líder da rede Haqqani, grupo de guerrilheiros ligado à Al-Qaeda, encarregado da segurança em Cabul) para o Interior.

Amir Khan Muttaqi, negociador dos talibãs em Doha, chefiará o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

"O Governo não está completo", sublinhou ainda o porta-voz, assegurando que o movimento, que prometeu um executivo "inclusivo", vai tentar "arranjar pessoas de outras regiões do país".

Os talibãs tinham indicado há uma semana que estavam quase concluídas as rondas de consultas para a formação do novo Governo, que se tornou mais urgente após a partida, a 31 de agosto, do último avião com soldados norte-americanos.

Após quase duas décadas de presença de forças militares norte-americanas e da NATO, os talibãs tomaram o poder em Cabul a 15 de agosto, culminando uma rápida ofensiva que os levou a controlar as capitais de 33 das 34 províncias afegãs em apenas 10 dias.

Desde então, os combatentes islamitas radicais asseguraram em várias ocasiões a intenção de formar um Governo islâmico "inclusivo", que represente todas as tribos e etnias do Afeganistão.

A comunidade internacional advertiu que julgará o movimento fundamentalista pelas suas ações, nomeadamente quanto às promessas de respeitarem os direitos das mulheres.

Também hoje em conferência de imprensa em Bruxelas, o vice-presidente da Comissão Europeia com a pasta das relações interinstitucionais, Maros Sefcovic, comentou que, na reunião do colégio desta manhã, os membros do executivo comunitário tiveram "uma discussão aprofundada sobre os últimos desenvolvimentos no Afeganistão", adiantando que "a situação ainda é muito fluida e requer um acompanhamento atento".