Madeira

Superiate 'Archimedes' de matemático bilionário está atracado no Porto do Funchal

Foto DR/Sérgio Ferreira
Foto DR/Sérgio Ferreira

Chegou ao Funchal, ontem, à hora do almoço e permanecerá pelo menos até amanhã, o superiate 'Archimedes', que tem nome de um dos mais conhecidos matemáticos da Grécia Antiga, mas que curiosamente - provavelmente mesmo por isso - também é detido por um matemático dos tempos contemporâneos que é um bilionário que fez fortuna em fundos de capital de investimento, James (Jim) Simons.

A história do iate é curta comparativamente à longa e interessante vida do seu proprietário. O 'Archimedes' foi construído em 2008, quando Simons já tinha 70 anos. Com capacidade para transportar até 12 pessoas em seis cabines, servidos por 18 tripulantes, o navio de luxo custou a módica quantia de 100 milhões de dólares (84,23 milhões de euros) e tem um custo anual de manutenção em navegação de 10 milhões de euros (8,42 milhões de euros).

Para se ter uma ideia, os mais de 70 metros de comprimento e 13 metros de largura do 'Archimedes' garantem uma navegabilidade suave (12 nós náuticos em velocidade de cruzeiro), podendo atingir o máximo de 16 nós náuticos de velocidade (29,63 km/h se fosse em terra). Tem uma autonomia até 6 mil milhas náuticas (em terra são 11.112 quilómetros).

Basicamente, se o navio estivesse a ir de um continente ao outro como parece estar a fazer nesta viagem, não precisaria de atracar na Madeira. No entanto, o Porto do Funchal é visto como um último contacto com terra antes da grande travessia ou, no sentido inverso, o primeiro contacto com terra depois de cruzar o Oceano Atlântico nesta zona à beira do Mediterrâneo.

Nesta viagem, vindo de Gibraltar, o 'Archimedes' poderia ir até Miami (a 3.811,56 milhas náuticas de Gibraltar), mas pode muito bem estar a caminho de 'casa', uma vez que o navio está registado no arquipélago das Bermudas, o tal do 'triângulo misterioso', um dos maiores mitos deste planeta e que atravessa há centenas de anos e ainda sem uma aparente explicação lógica.

Por falar em explicação lógica, voltemos ao dono do 'Archimedes', Jim Simons, cuja fortuna é avaliada em 25,7 biliões de dólares (21,65 mil milhões de euros), está reformado desde Janeiro deste ano, aos 83 anos.

Nascido em 25 de Abril de 1938, em Brookline, Massachusetts, James Harris Simons licenciou-se no MIT (Massachusetts Institute of Technology), completou o Doutoramento com 23 anos pela University of California, deu aulas como professor assistente na Harvard University após um ano no MIT quando teria três de contrato.

Simons, que foi casado duas vezes e teve três filhos, "tornou-se um decifrador de códigos a tempo parcial para a Agência de Segurança Nacional (NSA) em 1964" (durante a Guerra Fria) até ser demitido em 1967, após enviar uma carta ao New York Times que criticava o envolvimento do exército dos EUA na Guerra do Vietname", conta a Bloomberg News.

Depois de 10 anos como chefe da divisão de matemática da Stony Brook University , em Nova Iorque, em 1977 demitiu-se para iniciar "a Monemetrics, uma empresa de comércio quantitativo que se concentrava em commodities", cujo nome 5 anos depois mudaria para Renaissance Technologies. Em 1988 criou o principal fundo gerido pela empresa, o Medallion, que "usa modelagem quantitativa e algoritmos de negociação para investir em mercados globais".

A mais recente notícia sobre Simons, que desconhecemos se está a bordo do 'Archimedes', tem algumas horas e dá conta que terá de entregar ao Governo Federal dos Estados Unidos a módica quantia de 670 milhões de dólares (564,31 milhões de euros) "no maior acordo fiscal da história dos Estados Unidos", segundo o Finantial Times. Os actuais executivos da Renaissance e suas famílias vão pagar 7 bilhões de dólares (5,9 mil milhões de euros) em impostos atrasados e multas às autoridades federais.

Resumindo, "o acordo pôs fim a uma disputa de longa data ligada às negociações feitas pelo fundo Medallion da empresa entre 2005 e 2015, quando vários dos seus executivos converteram ganhos de capital de curto prazo em lucros de longo prazo, que são tributados a uma taxa significativamente mais baixa". Segundo a FT, citando conclusão do Subcomité do Senado norte-americano que investigou o caso, os bancos 'Barclays e Deutsche Bank foram dois dos credores que ajudaram a Renaissance a estruturar as transações".

Fazendo contas, para Simons, significa como pagar quase sete novos 'Archimedes' ou, calculando pela sua fortuna, será como retirar apenas 2,6% da imensa fatia que dispõe. Voltando à Bloomberg News, "Simons planeia doar a maior parte da sua riqueza para causas filantrópicas", sendo inclusive um dos que assinou o Giving Pledge, em 2010.

Segundo o site deste movimento, "o Giving Pledge é um compromisso dos indivíduos e famílias mais ricos do mundo de dedicar a maior parte de sua riqueza para retribuir". Simons foi um dos primeiros aderentes do movimento criado por Bill e Melinda Gates e Warren Buffett e que já integra 223 doadores de 27 países.