Eleições e as semelhanças com os jogos de azar

Eu reconheço que não devia falar de eleições nesta altura. É um tema gasto, massudo e até para muitas pessoas, acredito, incomodativo.

Sentimos que as pessoas estão fartas de ouvir tantas promessas, de ver tanta hipocrisia, de escutar as mesmíssimas coisas, por vezes pelas mesmas pessoas ou por oradores diferentes.

Os cartazes e as “fanfarras” já quase passam ao lado da maioria dos cidadãos.

E muita gente ainda assiste, digamos, à passagem das “trupes eleitorais”, mais pelo espetáculo, do que pelo interesse de ouvir o que este ou aquele diz que fez ou vai fazer.

Este tipo de democracia ou socialismo está tão gasto, tão apodrecido, quanto estavam as práticas e as políticas do velho regime caído em Abril de 74!

É triste dizer isto, mas é a verdade. Claro que há quem não pense assim, como, aliás, também havia, quem não acreditava, na saturação do povo no regime passado, mesmo em vésperas dele ter caído.

Não obstante ele dar mostras nítidas do seu enfraquecimento, sobretudo após a queda de Salazar e o início da guerra no Ultramar.

Nesta “fotocópia distorcida” de democracia e socialismo que temos, as razões que levam à desilusão e frustração das pessoas, não são totalmente as mesmas – já não há Salazar nem guerra – mas a maioria das causas são rigorosamente iguais.

O apego aos “tachos”, o oportunismo, a mentira deslavada e quanto à irresponsabilidade, à discriminação social, aos gastos supérfluos e políticas de fachada em nada ficam atrás em relação ao antigamente.

Aliás, relativamente aos dinheiros públicos esbanjados, não há comparação possível com o passado, porque naquele tempo não havia muito dinheiro para gastar, pois não tínhamos uma EUROPA solidária e benfeitora como temos de há quase 50 anos a esta parte.

Para ser mais preciso, nesse tempo, aquilo de que Portugal precisava todos os países da Europa andavam à procura, mormente nas décadas seguintes às grandes guerras.

Bom, mas voltando aos dias de hoje e ao olharmos a nossa sociedade, decrépita sobre qualquer ponto de vista, amordaçada, não por ditadura, mas pelo medo das pessoas perderem o emprego ou pela necessidade de ter de o arranjar, onde as riquezas (fantasmas) andam lado a lado com a pobreza, à vista ou camuflada e próximo das inúmeras famílias encalacradas e tudo o mais que se sabe e se vê, será mesmo que há vontade de votar?

Os eleitores que há quase meio século andam a colocar o seu voto nas urnas ao terem a consciência de viverem num País dos mais corruptos da velha EUROPA e dos que menos aproveitou os muitos apoios da União Europeia, que motivações têm hoje para irem às urnas?

Presumivelmente, continuam a ir na fé e na remota esperança de um dia ver este país mudar, a modos de quem vai jogar no Euromilhões ou no Totoloto na esperança de um dia lhes sair um prémio que lhes mude a vida para melhor.

Honestamente (e tristemente) falando, as probabilidades de ver este País prosperar e nos sair o primeiro prémio dos jogos da Santa Casa, são praticamente as mesmas.

Resta-nos a consolação de ao menos para votar não se pagar, ou melhor dizendo, não se pagar na hora, porque, infelizmente, levamos uma vida inteira a pagar… para que meia dúzia leve os grandes prémios para casa!

Tal como no Euromilhões, no Totoloto e em quase todos os jogos (chamados) de azar.

Juvenal Pereira